quinta-feira, 4 de julho de 2013

Abortista ‘fala sem parar’ por 13 horas para impedir votação de projeto contra o aborto no EUA.

Por The Guardian |

Tradução: Fratres in Unum.com
Às 11:18h da terça-feira, uma senadora pouco conhecida do Texas, chamada Wendy Davis, ficou de pé e começou um discurso apaixonado contra o projeto de lei que restringiria gravemente o acesso ao aborto no segundo maior estado dos Estados Unidos.
Dez horas e 45 minutos mais tarde, a senadora de 50 anos de idade ainda estava falando, ainda de pé, e o movimento pró-escolha preparado para o combate tinha um novo ícone.
A senadora Davis falou durante 11 horas antes que seu discurso fosse interrompido faltando menos de duas horas antes da expiração do prazo.
Vestindo um elegante casaco e tênis de corrida, Davis engajou-se em um procedimento épico para obstaculizar (“filibuster”) e negar a passagem do projeto de lei pelas vias legislativas do Texas, falando sem parar durante 13 horas, a fim de impedir a votação.Faltando menos duas horas para o fim do prazo, que se encerraria à meia noite, ela finalmente silenciou, quando os republicanos a desafiaram com a regra “três faltas e você está fora”, alegando que ela havia violado as regras duas vezes, desviando do assunto e permitindo que um colega a ajudasse a colocar um colete nas costas.
Porém, com o auxílio dos camaradas democratas e centenas de manifestantes que aplaudiam e vaiavam, o projeto foi paralisado em meio a cenas caóticas, que duraram até as primeiras horas da quarta-feira. Até então, centenas de milhares de americanos estavam acompanhando os eventos ao vivo em redes sociais e Davis havia se tornado uma estrela.
Como uma entusiasta da boa forma, ela tinha a resistência necessária para aguentar a cansativa façanha. As regras eram rigorosas: sem digressões, sem alimento ou água, sem se apoiar na mesa, sem intervalos para ir ao banheiro e sem se sentar – A cadeira de Davis foi retirada quando ela começou a falar, daí a necessidade de um calçado confortável.
Ela leu de uma pasta cheia de histórias de mulheres afetadas pelo aborto, às vezes, tornando-se emotiva. Centenas de manifestantes vestidos de laranja se amontoaram nos corredores e na galeria pública na câmara do senado do capitólio do Texas, em Austin. Alguns gritavam, interrompendo, e foram retirados pela polícia.
Parecia que Davis estava fadada a uma falha heroica após quase 11 horas, quando os republicanos a interromperam pela terceira vez. Porém, outros democratas conseguiram travar o processo levantando questões de ordem.
Por volta das 23:45h, a senadora Leticia Van De Putte, que havia chegado do funeral de seu pai, sentiu que estava sendo ignorada pela autoridade que presidia a sessão, o governador republicano David Dewhurst. Ela lhe perguntou: “Em que ponto uma senadora deve levantar sua mão ou sua voz para ser reconhecida sobre seus colegas homens?”
Multidão de espectadores na rotunda enquanto desenrolava o caos na última hora da sessão especial do legislativo.
Multidão de espectadores na rotunda enquanto desenrolava o caos na última hora da sessão especial do legislativo.
Isso provocou uma cantoria violenta da galeria pública, que durou até depois da meia noite e tumultuou os procedimentos. Em meio à balbúrdia, ninguém tinha certeza se um voto havia sido dado a tempo. Os democratas alegavam que isso acontecera um minuto ou dois após o prazo, enquanto os republicanos disseram que a votação deveria continuar.
Inicialmente, após dar a impressão de ter declarado que o projeto de lei havia chegado ao fim, por volta das 3 da manhã, Dewhurst disse que ele havia sido aprovado por 19 votos a dez, porém, “o tumulto e o barulho que estavam acontecendo” o impediram de concluir as formalidades necessárias para sancioná-lo.
“Não perdi o controle do que estávamos fazendo. Tínhamos uma turba incontrolável… usando táticas da Ocupação da Wall Street”, ele disse aos repórteres. Finalmente, perdido em palavras, Davis disse que ela estava “esmagada”.
As propostas pediam que os abortos fossem proibidos após 20 semanas, as clínicas atualizassem suas instalações para serem classificadas como centros cirúrgicos e os médicos tivessem privilégios de admissão em um hospital em um raio de 30 milhas. Elas teriam forçado o fechamento de 37 clínicas no estado, de acordo com os opositores, dificultando que mulheres em áreas rurais realizassem um aborto.
Não há rumores de que Davis possa concorrer ao cargo de governadora do estado fortemente republicano em 2014. Sua ascensão já é notável. Aos 14 anos, ela trabalhou após as aulas vendendo assinaturas de jornais e numa casa de sucos para ajudar a sustentar sua mãe solteira e três irmãos. Aos 19 anos ela própria se tornou mãe solteira, uma divorciada trabalhando em dois empregos e vivendo em um estacionamento de trailers.
Depois de estudar para se tornar técnica judiciária, foi transferida de uma faculdade local para a Universidade Cristã do Texas, ganhando um diploma e sendo admitida na Faculdade de Direito de Harvard. Recasada e com uma segunda filha, ela se formou pela Harvard e se tornou advogada em Fort Worth, ingressando na prefeitura.
Davis divorciou-se novamente e foi eleita para o Senado do Texas em 2008, desbancando um republicano em Fort Worth, em uma vitória surpreendente. Ela atraiu a atenção pela primeira vez em 2011 obstaculizando – dessa vez por menos de duas horas — para frustrar um projeto de lei que teria cortado um financiamento para a educação no valor de U$4 bilhões. Isso levou Rick Perry, o governador do Texas, a descrevê-la como um “cavalo de corrida”. Agora ele pode convocar uma sessão especial para dar um jeito de avançar com o projeto de lei mais uma vez.
O recurso de obstáculo à votação [filibuster] espalhou-se como um vírus e mais de 150.000 pessoas assistiram pelo YouTube. Milhares mais acompanharam pelo Twitter,especialmente, depois que o Presidente Obama o trouxe à atenção de seus 33 milhões de seguidores, dizendo-lhes “Algo especial está acontecendo em Austin hoje à noite” e usando a hashtag #StandWithWendy [Fique com Wendy].

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