terça-feira, 28 de junho de 2011


Pequeninos

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Dom José Alberto Moura, CSS
Arcebispo de Montes Claros, MG

O amor de Jesus para com os pequeninos mostra-nos a necessidade de vermos o semelhante a partir dele, com sua ótica do amor aos mais fragilizados. Não vemos isso acontecer por parte de quem tem o enfoque da vida no fechamento de si mesmo. A sociedade de consumo coloca o valor maior na busca de vantagens pessoais, sem muito levar em conta as necessidades do semelhante, esquecendo-se de que, quanto mais dermos de nós mesmos em bem de uma sociedade justa e fraterno, mais temos efeito positivo para nós também. Caso contrário, continuaremos a ver grandes parcelas deixadas de lado na caminhada da vida e na justa promoção da dignidade para todos.
Nessa perspectiva, vale a pena considerar o exemplo de Jesus e seu ensinamento: “Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa” (Mateus 10, 42). Muitos na história humana foram e outros ainda são obedientes a Jesus, com sua vida de total dedicação à causa da promoção da vida, a partir dos mais empobrecidos e carentes. Além de darem mais do que um prato de comida, lutam por sua dignidade, com ações sociais, políticas e união de esforços para a implantação de mais justiça  inclusão social dos pequeninos. Em nossas Igrejas e em grupos de promoção humanitária vêem-se pessoas de ideal e amor, que não medem esforços para a preservação da vida, do meio ambiente e na luta por políticas públicas de serviço à causa dos mais indefesos e agredidos em sua vida.

Hoje, mais do que nunca, precisamos trabalhar pela base da sustentação e da formação da dignidade humana que é a família. Bem preparada, formada e com meios suficientes para viver com o mínimo de estrutura humana, pode dar mais sustento ao tecido social. Quanto mais condições educativas com valores éticos, materiais e religiosos tiver, mais dará base para uma convivência equilibrada da interação, justiça e paz na sociedade. Caso contrário, vamos eternamente trabalhar com os efeitos danosos da droga e da dissolução dos elos familiares, com seus transtornos sociais. Muitas vezes o enfoque de defesa dos direitos das pessoas barra com suas carências de formação do caráter e dos valores da cidadania. Na família bem estruturada a formação para a alteridade, a contribuição para o respeito e a promoção de quem é mais fragilizado em todos os aspectos são fatores determinantes para um convívio de mais felicidade para todos. Onde há alguém sofrendo, a pessoa bem formada olha por sua causa. Caso contrário, viveremos com a verdadeira lei injusta do predomínio do mais forte sobre o fraco. Na sociedade marcada profundamente pela busca desenfreada do ter, Jesus nos ensina o valor maior da busca do amor, em vista do tesouro definitivo do Reino do Céu.

Não é à toa que ele nos apresenta o Evangelho do amor, com seus diversos graus, como: amar o próximo como a si mesmo; amá-lo retribuindo o amor recebido; amá-lo com o amor de Deus e por causa dele.
Paulo nos lembra o compromisso assumido por quem é batizado: o de morrermos para nós mesmos, à semelhança do Divino Mestre, que o fez para nos dar vida. Assim daremos também a nossa para retribuirmos o amor dele, dando de nossa vida a quem a tem fragilizada (Cf. Romanos 6,8-11).



28/06/2011
Parada Gay: respeitar e ser respeitado


Eu não queria escrever sobre esse assunto; mas diante das provocações e ofensas ostensivas à comunidade católica e cristã, durante a Parada Gay deste último domingo, não posso deixar de me manifestar em defesa das pessoas que tiveram seus sentimentos e convicções religiosas, seus símbolos e convicções de fé ultrajados.
Ficamos entristecidos quando vemos usados com deboche imagens de santos, deliberadamente associados a práticas que a moral cristã desaprova e que os próprios santos desaprovariam também. Histórias romanceadas ou fantasias criadas para fazer filmes sobre santos e personalidades que honraram a fé cristã não podem servir de base para associá-los a práticas alheias ao seu testemunho de vida. São Sebastião foi um mártir dos inícios do Cristianismo; a tela produzida por um artista cerca de 15 séculos após a vida do santo, não pode ser usada para passar uma suposta identidade homossexual do corajoso mártir. Por que não falar, antes, que ele preferiu heroicamente sofrer as torturas e a morte a ultrajar o bom nome e a dignidade de cristão e filho de Deus?!
“Nem santo salva do vírus da AIDS”. Pois é verdade. O que pode salvar mesmo é uma vida sexual regrada e digna. É o que a Igreja defende e convida todos a fazer. O uso desrespeitoso da imagem dos santos populares é uma ofensa aos próprios santos, que viveram dignamente; e ofende também os sentimentos religiosos do povo. Ninguém gosta de ver vilipendiados os símbolos e imagens de sua fé e seus sentimentos e convicções religiosas. Da mesma forma, também é lamentável o uso desrespeitoso da Sagrada Escritura e das palavras de Jesus – “amai-vos uns aos outros” – como se ele justificasse, aprovasse e incentivasse qualquer forma de “amor”; o “mandamento novo” foi instrumentalizado para justificar práticas contrárias ao ensinamento do próprio Jesus.
A Igreja católica refuta a acusação de “homofóbica”. Investiguem-se os fatos de violência contra homossexuais, para ver se estão relacionados com grupos religiosos católicos. A Igreja Católica desaprova a violência contra quem quer que seja; não apoia, não incentiva e não justifica a violência contra homossexuais. E na história da luta contra o vírus HIV, a Igreja foi pioneira no acolhimento e tratamento de soro-positivos, sem questionar suas opções sexuais; muitos deles são homossexuais e todos são acolhidos com profundo respeito. Grande parte das estruturas de tratamento de aidéticos está ligada à Igreja. Mas ela ensina e defende que a melhor forma de prevenção contra as doenças sexualmente transmissíveis é uma vida sexual regrada e digna.
Quem apela para a Constituição Nacional para afirmar e defender seus direitos, não deve esquecer que a mesma Constituição garante o respeito aos direitos dos outros, aos seus símbolos e organizações religiosas. Quem luta por reconhecimento e respeito, deve aprender a respeitar. Como cristãos, respeitamos a livre manifestação de quem pensa diversamente de nós. Mas o respeito às nossas convicções de fé e moral, às organizações religiosas, símbolos e textos sagrados, é a contrapartida que se requer.
A Igreja Católica tem suas convicções e fala delas abertamente, usando do direito de liberdade de pensamento e de expressão. Embora respeitando as pessoas homossexuais e procurando acolhê-las e tratá-las com respeito, compreensão e caridade, ela afirma que as práticas homossexuais vão contra a natureza; essa não errou ao moldar o ser humano como homem e mulher. Afirma ainda que a sexualidade não depende de “opção”, mas é um fato de natureza e dom de Deus, com um significado próprio, que precisa ser reconhecido, acolhido e vivido coerentemente pelo homem e pela mulher.
Causa preocupação a crescente ambiguidade e confusão em relação à identidade sexual, que vai tomando conta da cultura. Antes de ser um problema moral, é um problema antropológico, que merece uma séria reflexão, em vez de um tratamento superficial e debochado, sob a pressão de organizações interessadas em impor a todos um determinado pensamento sobre a identidade do ser humano. Mais do que nunca, hoje todos concordam que o desrespeito às leis da natureza biológica dos seres introduz neles a desordem e o descontrole nos ecossistemas; produz doenças e desastres ambientais e compromete o futuro e a sustentabilidade da vida. Ora, não seria o caso de fazer semelhante raciocínio, quando se trata das leis inerentes à natureza e à identidade do ser humano? Ignorar e desrespeitar o significado profundo da condição humana não terá consequências? Será sustentável para o futuro da civilização e da humanidade?
As ofensas dirigidas não só à Igreja Católica, mas a tantos outros grupos cristãos e tradições religiosas não são construtivas e não fazem bem aos próprios homossexuais, criando condições para aumentar o fosso da incompreensão e do preconceito contra eles. E não é isso que a Igreja Católica deseja para eles, pois também os ama e tem uma boa nova para eles; e são filhos muito amados pelo Pai do céu, que os chama a viver com dignidade e em paz consigo mesmos e com os outros.




Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 28.06.2011
Card. Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo

* Deputada Myrian Rios emite nota oficial.


Faz parte do lobby ideológico; qualquer pessoa que se manifeste publicamente contra o comportamento homossexual é “esquartejada” midiaticamente.
Procura-se nas entrelinhas “qualquer palavra” que possa, de alguma forma, indicar homofobia.
A autêntica homofobia deve ser combatida, sem dúvida, mas o regime de terror nos lembra outros momentos da história onde a liberdade individual foi oprimida. No caso aqui, não é pela maioria mas pela minoria.
Sem discernimento, corre-se o risco de uma certa “guerra” na cabeça de muitas pessoas.
Devemos permanecer firmes na verdade daquilo que cremos, respeitando as pessoas de opinião divergentes, discutindo idéias com liberdade e sendo solidários aos que são perseguidos…Dos dois lados!
Sim, cada vez fica mais claro que além da insana homofobia, existe agora a heterofobia que tentou vitimar mais uma vítima: Myrian Rios.
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Nota Oficial
Rio de Janeiro, 27 de junho de 2011


Iniciei meu discurso de 21 de junho na tribuna da Alerj relatando a minha condição de católica, missionária consagrada da comunidade Canção Nova e, como tal, eu prego o respeito, o amor ao próximo, o perdão. Destaco que Deus ama a todas as pessoas, pois Ele não faz diferenciação. Em um dos trechos, afirmo: não sou preconceituosa e não descrimino.
Repudio veementemente o pedófilo e jamais tive a intenção de igualar esse criminoso com o homossexualismo. Se entenderam desta maneira, peço desculpas. Conto na minha família com parentes e amigos homossexuais e os amo, respeito como seres humanos e filhos de Deus. Da mesma forma repudio a agressão aos homossexuais, pois nada justifica tamanha violência.
Votei contra a PEC-23 por minhas convicções e não contra este ou aquele segmento de determinada orientação sexual.

MYRIAN RIOS
DEPUTADA ESTADUAL – PDT