domingo, 13 de janeiro de 2013

A dura realidade dos cristãos perseguidos


Patriarca Latino de Jerusalém, Dom Fouad Twal
O Patriarca Latino de Jerusalém, Sua Beatitude Fouad Twal, fez um grave apelo à comunidade internacional para que tome providências contra as perseguições aos cristãos no Oriente Médio. "Atualmente, o Oriente Médio em sua totalidade se converteu em Igreja do calvário", lamentou o prelado. O discurso foi feito durante uma entrevista a Radio Vaticano, no último dia 7 de janeiro.
Na mesma entrevista, o Bispo recordou a difícil situação dos cristãos sírios em meio à guerra civil que acontece no país. Dom Twal disse temer pelo futuro da região após o fim do conflito. "Há um plano internacional para mudar a situação, mas sobre o que realmente ocorrerá depois há um silêncio total", afirmou. A preocupação do patriarca se coaduna ao recente discurso do Papa Bento XVI aos diplomatas de várias nações, no qual o Santo Padre classificou a guerra na Síria como "interminável carnificina".
A Síria vive um duro conflito desde janeiro de 2011, quando manifestantes decidiram protestar contra a ditadura do presidente Bashar Al-Assad, influenciados pelo clima da Primavera Árabe. Ao todo, a guerra já vitimou mais de 60 mil pessoas, na maioria civis, segundo estimativas da ONU. O confronto também tem despertado atos de intolerância religiosa contra inúmeros cristãos. O país, que é considerado um dos berços do Cristianismo, é de maioria muçulmana - 90% da população.
Primavera Árabe é o nome dado a uma série de revoltas iniciadas há dois anos em países do Oriente Médio, como Egito e Síria, contra regimes ditatoriais e problemas econômicos. Desde que começou, quatro ditadores já foram depostos ou mortos: Ben Ali, da Tunísia; Hosni Mubarak, do Egito; Muamar Kadafi, da Líbia; e Ali Abdullah Saleh, do Iêmen. Embora os manifestantes lutem - aparentemente - por maior liberdade, há o risco de que essa revolução seja a abertura para ditaduras ainda mais opressoras. Grupos radicais islâmicos e a própria Fraternidade Muçulmana têm se aproveitado da situação para fecharem o cerco contra minorias cristãs e de outras religiões.
Vários católicos sírios se reuniram durante o Natal para pedirem a paz no país. Ao menos mil pessoas foram à Missa do dia 24, celebrada na igreja católica de Notre Dame, no bairro Qoussour de Damasco. Apesar dos apelos pelo fim da guerra, o presidente Assad recusou entrar em acordo com os inimigos, em um discurso feito no dia 06 de janeiro.
A onda de ataques a cristãos tem se intensificado nos últimos anos nos países do oriente, ainda mais com a chamada "Lei da Blasfêmia". Dentre os países onde mais cristãos são mortos, sobressai-se a Nigéria. De acordo com estimativas divulgadas pelo Associated Press, cerca de 1800 cristãos foram mortos nesse país em ataques terroristas planejados por radicais islâmicos desde 2007. O caso mais famoso de um cristão vítima da "Lei da Blasfêmia" é o da paquistanesa Asia Bibi que foi condenada à forca em 2009 por supostamente ter ofendido o profeta Maomé.
A história de Asia Bibi ganhou repercussão internacional em novembro de 2009, após ela ter sido condenada à morte por se recusar a converter-se à religião islâmica. Em junho do mesmo ano, a jovem paquistanesa havia se envolvido em uma briga com colegas de trabalho que protestavam contra a ida dela a uma fonte para pegar água, enquanto trabalhava em um campo. As mulheres muçulmanas alegavam que ela contaminaria a água por ser cristã. Em sua defesa, Asia Bibi respondeu: "Cristo morreu numa cruz por mim, e Maomé, o que fez por vocês?" Após essas palavras, as mesmas mulheres a denunciaram às autoridades locais, que a prenderam pelo delito de blasfêmia. Para que fosse liberta, as autoridades pediram para que a moça se tornasse muçulmana, mas Bibi se recusou. Apesar dos inúmeros apelos para que fosse perdoada, Asia Bibi continua presa até hoje.
Igreja Católica de Santa Teresa em Madalla atacada por membros do grupo extremista Boko Haram
A "Lei da blasfêmia" enquadra-se na chamada "Charia", o código penal dos muçulmanos que é pautado pelo Corão, livro sagrado do Islamismo. Essa lei prevê uma série de punições - incluindo a pena de morte - para aqueles que insultarem a figura do profeta Maomé ou os princípios islâmicos. Apesar de não ser seguida em todas as regiões de predomínio muçulmano, alguns grupos radicais exigem que a Charia seja aplicada integralmente em seus respectivos países. Por exemplo, o grupo terrorista Boko Haram, que significa "educação ocidental é sacrilégio", luta para que a Charia seja estabelecida em toda a Nigéria. No último Natal, esse mesmo grupo foi responsável pela destruição de duas igrejas e pela morte de 12 pessoas no país. Durante todo o ano de 2012, 770 assassinatos foram atribuídos ao Boko Haram, segundo a agência Associated Press.
Os cristãos do Egito também sofrem duras reprimendas, principalmente após a queda do ditador Hosni Mubarak e a ascensão do governo muçulmano. O fato mais grave ocorreu em 9 de outubro de 2010, quando o governo ordenou que suas tropas avançassem contra manifestantes cristãos coptas que protestavam contra ataques muçulmanos - incêndios em igrejas, assassinatos e estupros. A ação resultou na morte de 24 pessoas e 300 feridos. A instabilidade da região provocou o êxodo de mais de 200 mil coptas por medo de novos ataques. Dos 83 milhões de habitantes no Egito, apenas 10% são cristãos.
Os ataques contra pessoas cristãs geralmente partem de grupos extremistas, embora muitas vezes contem com a conivência das autoridades. Apesar das escandalosas atrocidades realizadas por esses grupos, pouco se fala na mídia a respeito. Foi o que denunciou a pesquisadora do American Enterprise Institute, Ayaan Hirsi Ali, em uma reportagem para a Revista Newsweek. De acordo com Ali, "nos últimos anos, a opressão violenta das minorias cristãs tornou-se a norma em países de maioria islâmica, da África Ocidental ao Oriente Médio e do sul da Ásia à Oceania". Para a pesquisadora, "em vez de acreditar em histórias exageradas de islamofobia ocidental, é hora de tomar uma posição real contra a cristofobia que contamina o mundo muçulmano".
A pesquisadora Ayaan Hirsi Ali alega que existe uma "conspiração do silêncio" por parte da mídia ocidental em relação ao massacre de cristãos. Segundo a pesquisadora, esse silêncio se daria por dois motivos: pelo medo da mídia em gerar mais massacres, caso faça ampla divulgação dos já ocorridos, ou, mais provável, pelo lobby de instituições muçulmanas, como a Organização da Cooperação Islâmica – uma espécie de Nações Unidas do islamismo, com sede na Arábia Saudita – e o Conselho para Relações Americano-Islâmicas, que fazem pressão na imprensa de vários países para que acobertem os crimes dos terroristas islâmicos, a fim de impedir o crescimento do pretenso complexo de "islamofobia".
De fato, após os atentados de 11 de setembro de 2001, tornou-se politicamente incorreto criticar os terroristas muçulmanos por seus crimes hediondos. O exemplo mais claro disso é o que ocorreu em setembro de 2006, quando o Papa Bento XVI citou em seu discurso, em uma universidade da Alemanha, uma fala do imperador bizantino Manuel II: "Mostre-me o que Maomé trouxe de novo e encontraremos apenas coisas más e desumanas, como a ordem para espalhar pela espada a fé que ele pregava". A frase foi o bastante para desencadear uma avalanche de protestos violentos no mundo árabe, além de severas críticas por parte da imprensa ocidental.
Durante todo o ano de 2012, cerca de 105 mil cristãos foram mortos por motivo de religião, segundo estimativas do Observatório de Liberdade Religiosa da Itália. A Coréia do Norte é a campeã há 11 anos na lista da fundação Open Doors como o país que mais persegue cristãos. O Cristianismo, afirma a organização católica "Ajuda à Igreja que Sofre" (AIS), é a religião mais discriminada no mundo. Embora seja algo trágico, a situação reacende a virtude da fortaleza e a coragem do martírio na consciência cristã, características marcantes dos cristãos primitivos, que junto com Santo Inácio de Antioquia diziam: "o sangue dos mártires é semente para novos cristãos". Nestes tempos de letargia e pusilanimidade, o testemunho desses nobres mártires deve ser um bastião para defesa de nossa fé.

Veja também:

O que realmente mudou depois do 11 de Setembro?
Fonte: http://padrepauloricardo.org/blog

Nenhum comentário:

Postar um comentário