26.10.2014 -
O relatório final do Sínodo (Relatio Synodi) publicado em 18 de outubro de 2014 não conclui nada; muito pelo contrário, ele apresenta certos temas de reflexão dos quais as dioceses vão se ocupar agora, antes que o Sínodo de outubro de 2015 os reexamine.
Sobre a questão da comunhão dos divorciados recasados, o cardeal Walter Kasper não perde a esperança. No Il Messaggero, citado pelo blog do La Croix em 20 de outubro, ele confia:
“A questão ainda está sobre a mesa. Ela ressurgirá nos documentos do próximo sínodo. A discussão está agora a nível de cada país. Veremos”.
Na véspera, em 19 de outubro, o cotidiano francês relatava essa confidência: “No início da semana, esperava-se poder ir mais longe“, comenta um cardeal próximo do papa Francisco, acrescentando logo em seguida, com um sorriso no rosto: “Mas paciência, paciência… estamos no caminho“. Em sua homilia de 19 de outubro pela beatificação de Paulo VI, Francisco descreveu essa “marcha que, nas Igrejas de toda a terra, nos prepara ao próximo Sínodo“. Ele convida a se deixar surpreender por Deus. Ele “não tem medo da novidade!“, sublinhou.
Em 20 de outubro, pelas ondas da Rádio Vaticano, Romilda Ferrauto sublinha que o relatório final “reconhece a presença de elementos válidos fora do casamento cristão, sob a condição de que essas formas sejam fundamentadas sobre uma relação estável e autêntica entre um homem e uma mulher e orientados rumo ao matrimônio cristão”. É o que já dizia o relatório intermediário de 13 de outubro: “Uma nova sensibilidade da pastoral de hoje consiste em compreender a realidade positiva dos casamentos civis e, levando em conta certas diferenças, dos concubinatos. (…) Também nessas uniões, pode-se ver valores familiares autênticos, ou ao menos o desejo deles. É preciso que o acompanhamento pastoral comece sempre por esses aspectos positivos“.
Sébastien Maillard, o correspondente em Roma do La Croix, num artigo intitulado Da arte de dirigir um Sínodo dividido, assinala o papel preponderante do papa “que se descreveu como “un po furbo” (um pouco astuto)”: “Enquanto que o relatório final freava nitidamente o documento preliminar e que três artigos sobre os temas sensíveis em debate eram rejeitados, ele superou a dificuldade em dois tempos, três movimentos – manobra que valeria ser estudada em ciências políticas. (…) Sínodo, tal como o orquestrou esse papa jesuíta para articular o exercício do discernimento. Desde o início, ele imaginou não uma, mas duas assembleias sinodais. Com, de uma a outra, em 2015, uma consulta real dos fiéis, que passará pelo encontro internacional das famílias na Filadélfia, em setembro próximo. A Igreja católica é assim colocada em estado de Sínodo permanente (sic), tradução institucional de um modo de sempre se colocar a caminho“. E se questionar continuamente é o que chamam também de a revolução permanente.
De volta de Roma, onde ele seguia o Sínodo, o jornalista Jean-Marie Guénois declara no Le Figaro de 21 de outubro:
“Esse sínodo lançou a discussão. Os bispos dão agora a palavra ao mundo, para que o debate prossiga nas igrejas. Mas será preciso vigiar às manipulações. Vocês vão ver jorrar por toda parte petições, por exemplo. Semelhante àquela que o cardeal Marx – um dos membros do G8 – que se permitiu chegar ao sínodo afirmando, com documento em apoio, que “todos os bispos alemães” esperavam a reforma sobre os divorciados recasados. Então devemos esperar uma forte propaganda que vai fazer pressão sobre a opinião. Quando a segunda sessão do sínodo ocorrer, o fruto estará maduro. Mas os argumentos dos teólogos fundamentados sobre a tradição da Igreja, e não sobre a opinião, não terão mudado… Nesse meio tempo certas comissões de trabalho especializadas terão preparado soluções práticas e jurídicas para serem propostas. (…)
Alguns evocam um risco de cisma. Já há cismas de fato na Igreja católica, com muitos padres ou fiéis que não compartilham a fé católica sobre a eucaristia ou sobre a Virgem Maria, por exemplo, mas que se dizem católicos, enquanto que eles são autênticos cristãos… protestantes!
Poderia então haver um cisma de fato silencioso, invisível se as decisões forem longe demais. O que é certo, por outro lado, é que esse sínodo abre uma crise na Igreja no sentido antigo dessa palavra, que é de fazer uma escolha, de decidir. Novamente, esse papa, que não é um teólogo, mas um pastor, vê a Igreja como um “povo a caminho” que descobre coletivamente, progressivamente o caminho, as vias novas a serem tomadas. E as pessoas ainda não entenderam, especialmente na França e em certos meios, como tento explicar em meu último livro (Até onde irá Francisco? – J.-C. Lattès ed.) a extensão e a profundidade da mudança de papado entre Bento XVI e Francisco. Provavelmente o choque desse sínodo abra os olhos de alguns. Essa mudança de papa não é somente a de um papa, é também um novo capítulo”.
A mais cândida confissão vem do presidente da Conferência episcopal canadense, Dom Paul-André Durocher, que escreve em seu blogue sem rodeios:
“De certo modo, o que fizemos com a vida familiar é o que o concílio Vaticano II fez pela liturgia e o ecumenismo: dar o sinal verde a um estilo de ministério que já está emergindo na Igreja, assegurar os fundamentos teológicos e convidar toda a Igreja a fazer o mesmo. Certamente, aqueles que não gostaram do que o Vaticano II fez pela liturgia e o ecumenismo não devem gostar do que esse Sínodo tem feito pela vida familiar…”
Sem comentários; é melhor ler ou reler o Reno se lança no Tibre, o Concílio desconhecido de Ralph M. Wiltgen s.v.d. (DMM) e Vaticano II, uma história jamais contada de Roberto de Mattei (Muller).
Fonte: http://catolicosribeiraopreto.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário