Dois livros recentes sugerem que, no meio dos desafios e dos problemas, os Estados Unidos estão acelerando o caminho para uma renovação católica autêntica.
O lançamento do livro “Renewal” (Renovação, ndr), de Anne Hendershott e Christopher White, foi programado para coincidir com os recentes comentários do papa Francisco sobre a reforma dos seminários. O pontífice enfatiza o imperativo da formação integral, em que o desenvolvimento humano, o crescimento espiritual, a formação intelectual e o desenvolvimento das habilidades pastorais são conciliados de modo a preparar os sacerdotes do futuro. Hendershott e White demonstram que os seminários norte-americanos, que já foram profundamente atormentados pela confusão das décadas pós-Vaticano II, estão hoje na vanguarda dessa renovação, podendo ser imitados por outros países ocidentais.
A longa quaresma de 2002, com todas as problemáticas que ela expôs, mostrou com clareza que baixar o nível da formação nos seminários trouxe consequências desastrosas para o ministério e para a credibilidade da Igreja. Os bispos dos EUA assumiram então a reforma dos seminários e, hoje, mais do que jogar na defesa, seminários norte-americanos como o de Mundelein, em Chicago, estão tentando fazer a Igreja “ir ao ataque”; não à ofensiva, mas ao desenvolvimento de novos modelos de apologética para o século XXI, que convidem os desencantados pós-modernos a experimentar a misericórdia de Deus e a conhecer a verdade através da experiência.
Hendershott e White mostraram que o tempo dos seminários dominados por jargões psicológicos está quase encerrado. O recente aumento do número de candidatos à formação sacerdotal demonstra tanto a influência duradoura de João Paulo II, que muitos seminaristas do século XXI continuam a identificar como seu modelo, quanto a importância de um forte senso de identidade católica para atrair e formar futuros pastores.
Essa forte identidade católica terá eficácia evangélica se for aprofundada pela imersão do homem no mistério da Eucaristia, em que a redenção operada pelo sacerdócio único e salvífico de Jesus Cristo se estende sacramentalmente na história. O cardeal Edwin O’Brien, que já foi um reitor reformador de seminário numa época em que essa missão não era nada simples, afirmou, certa vez, que “um homem dará a vida por um mistério, mas não por um ponto de interrogação”. É por isso que, nos seminários americanos reformados do século XXI, a imersão no mistério eucarístico, a erudição teológica, a habilidade pastoral, uma forte identidade católica e um compromisso com a missão evangelizadora caminham todos juntos.
E isto, sugerem Hendershott e White, é verdade quanto ao catolicismo norte-americano em seu conjunto, especialmente na sua liderança pastoral. Entre os líderes sacerdotais e episcopais mais eficazes do catolicismo norte-americano de hoje, não há contradição entre a compaixão pastoral e o zelo evangélico, por um lado, e a forte identidade católica, por outro. São uma coisa só.
O outro livro em destaque é a coleção de ensaios esplendidamente ilustrados de Duncan Stroik, “The Church Building as a Sacred Place: Beauty, Transcendence, and the Eternal” [O edifício da Igreja como lugar sagrado: beleza, transcendência e o eterno, ndr]. A editora, a Hillenbrand Books, homenageia em seu nome um pioneiro do movimento litúrgico no seu período clássico, monsenhor Reynold Hillenbrand, de Chicago. O nome é completamente apropriado para uma editora que publica 23 reflexões de um dos arquitetos que estão direcionando a arquitetura da Igreja católica rumo a um futuro mais nobre.
Se os seminários enfrentavam problemas no imediato pós-concílio, o mesmo valia para a arquitetura das igrejas. Felizmente, os dias de locais de culto estilo Pizza Hut parecem terminados, o que se deve em grande parte ao fato de que profissionais eruditos como Stroik ajudaram o catolicismo a redescobrir que arquitetura e decoração clássicas podem sugerir, mediante a pedra, o vidro e outros materiais mundanos, algo do mistério divino que está no centro do culto católico.
A beleza, Stroik bem sabe, é um caminho que atrai de modo único para a verdade e para o bem, num mundo confuso quanto à verdade e à bondade. Na projeção e decoração de igrejas, conforme Stroik e aqueles que compartilham as mesmas ideias, toda a riqueza da teologia católica, e não um simples modernismo, informa a visão do arquiteto – e o culto da Igreja.
Identidade e missão, como sempre, caminham juntas.
Autor George Weigel