terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O crucificado que nos trouxe Deus

Somente na fé católica a crucificação de Cristo tem sentido, pois nela é que se encontra o verdadeiro "Jesus histórico"

Desde que Rudolf Bultmann decretou que não se pode crer na ressurreição depois da lâmpada elétrica, o número de interpretações malucas que surgiram sobre a Pessoa de Cristo é algo que não está no gibi[1]. Imagina-se de tudo: Jesus marxista, Jesus operário, hippie, camarada e tutti quantiNessa brincadeira, só não há espaço para uma única interpretação: a que está no Magistério da Igreja.
Essa tendência mais ou menos crítica de se desconfigurar o rosto tradicional de Jesus acentuou-se, segundo o Papa Bento XVI, a partir dos anos 50. Trata-se de uma cisão entre o "Jesus histórico" e o "Cristo da fé". Haveria um abismo enorme entre um personagem e outro. Cristo seria apenas uma invenção da comunidade primitiva, não tendo nada que ver com a salvação e a remissão dos pecados. Jesus, em tese, seria apenas um revolucionário à sua maneira, um reformador social. Alguém que viera contestar o status quo, abrindo caminho para as futuras revoluções do povo judeu e, por conseguinte, do "Povo de Deus". Todavia, bem observa o Papa Emérito, "quem lê várias destas reconstruções, umas ao lado das outras, pode rapidamente verificar que elas são muito mais fotografias dos autores e dos seus ideais do que reposição de um ícone, entretanto tornado confuso"[2].
Não é de se admirar que vários desses teólogos que propõem uma tal interpretação cristológica padeçam do mesmo complexo antirromano de Lutero. Por fim, quem começa negando a Igreja termina negando Deus. A bem da verdade, são homens que perderam a fé e que, cada vez mais, se submetem ao dogma do mundo moderno, no qual Deus não tem importância nem espaço. Eles se renderam à proposta racionalista, à pompa do criticismo e, em última análise, à sedução do Anticristo que, na expressão de Soloviev, é doutor honoris causa em teologia[3]. Satanás, mais do que ninguém, é o primeiro a usar a bíblia para tentar o Senhor: "Se és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se transformem em pão" (Mt 4, 3). Nesse desafio, esconde-se a hipocrisia de quem, querendo assumir o lugar de Deus, põe-se a derrubá-Lo de Seu trono, como uma pedra de tropeço, "um estorvo", "porque os teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens" (Cf. Mt 16, 22). Assim, Jesus torna-se uma figura "pouco plausível, remota, obscura e esquisita, alguém que falava numa língua estranha e que morreu há muito tempo"[4], não tendo mais nada a nos dizer ou ensinar.
E é óbvio que uma figura dessa estirpe não merece o nosso culto. O Cristo desenhado por esses teólogos inspira pouquíssima devoção. n’Ele não se encontra a beleza do transcende, mas a máscara das ideologias, que, em última análise, não passam de sistemas derivados de programas destrutivos. Quem olha para este Jesus não olha para o Pai, como atestam as Escrituras. Pelo contrário, é o rosto sombrio da mentira o que se enxerga. E se Cristo deixa de ser divino para ser tão somente político, também o seu culto deixa de ser a participação no seu Sacríficio da Cruz - em que o fiel presta sua adoração, contrição e ação de graças - para se converter num passatempo ou, pior ainda, numa convenção de facções ideológicas.
Com efeito, a crítica que muito se faz à liturgia da Igreja é, na verdade, um ataque ao coração de Deus. Na base de tudo encontra-se um ateísmo politizado que transforma a teologia em um campo de ação: não há motivo para se cultuar Deus, para prestar-lhe nossa devoção; o homem deve ser o seu princípio, meio e fim, o homem deve se autocultuar. Trata-se, então, da mesma repulsa de Pedro diante do mistério da cruz. Não se quer a dor, não se quer o sacrifício, somente o bem-estar, o conforto material. "Se és o Filho de Deus…", repete-se o desafio. Por outro lado, quando lançamos um olhar sincero sobre essa mentalidade, percebemos que tudo se encaminha para muito longe do paraíso: "Ela julgava poder transformar pedras em pão, mas gerou pedras em vez de pão".[5]
Esse progressismo adolescente, ao qual o Papa Francisco já lançou duras condenações, transgride a fidelidade; "essa gente, movida pelo espírito do mundo, negociou a própria identidade, negociou a pertença a um povo, um povo que Deus ama tanto, que Deus quer como seu povo"[6]. Ser fiel ao ministério de Jesus tal como está descrito no Evangelho e, obviamente, no Magistério da Igreja não significa acreditar em "algo mítico, que pode ao mesmo tempo significar tudo e nada"[7]; é precisamente o contrário, é lançar-se com firmeza à única certeza que dá sentido à nossa existência, significa olhar para o crucificado, no qual encontramos "a própria bondade de Deus, que se dá nas nossas mãos, que se entrega a nós e que, por assim dizer, suporta conosco todo o horror da história."[8] Cristo, portanto, mais do que nos dar bem-estar, conforto e paz, veio fazer algo muito maior: Ele veio nos trazer Deus!
"Somente por causa da dureza de nosso coração é que pensamos que isso seja pouco"[9]
Por Equipe Christo Nihil Praeponere

Referências

  1. Padre Paulo Ricardo, palestra sobre Jesus histórico e Cristo da Fé. Via YouTube
  2. RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré: do batismo no Jordão à transfiguração. São Paulo: Editora Planeta, 2007, p. 10
  3. 1900 apud RATZINGER, 2007, p. 47
  4. LEWIS, Clive Staples. Cartas de um diabo a seu aprendiz. São Paulo: Martins Fontes, 2011, p. 95
  5. RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré: do batismo no Jordão à transfiguração. São Paulo: Editora Planeta, 2007, p. 45
  6. Papa Francisco. Meditações Matutinas na Santa Missa Celebrada na Capela da Domus Sanctae Marthae (18 de novembro de 2013). Tradução Fratres in unum
  7. RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré: do batismo no Jordão à transfiguração. São Paulo: Editora Planeta, 2007, p. 29
  8. RATZINGER, Joseph. O Sal da Terra: o cristianismo e a Igreja Católica no sécula XXI: um diálogo com Peter Seewald / Joseph Ratzinger. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2005, p. 23
  9. RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré: do batismo no Jordão à transfiguração. São Paulo: Editora Planeta, 2007, p. 54

Femen agride cardeal espanhol idoso aos gritos de “aborto é sagrado”


Cinco ativistas do grupo feminista Femen atacaram na noite deste domingo o arcebispo de Madri, cardeal Antonio María Rouco, de 77 anosaos gritos de “o aborto é sagrado” e jogando sobre ele calcinhas manchadas com tinta vermelha. A agressão ocorre após a apresentação do 
projeto de lei do governo espanhol que deve reverter a lei do aborto no país, tornando-o novamente ilegal.
Segundo jornais espanhóis, como o ABC, as feministas estavam com os seios de fora e levavam o nome do movimento pintado no corpo. Elas atacaram o cardeal idoso no momento em que ele saía do carro para celebrar missa numa paróquia da região. Rouco foi socorrido pelos padres que o aguardavam e a igreja teve de fechar as portas. Mesmo assim, as manifestantes continuaram a gritar “o aborto é sagrado” pelas ruas do local.
Hostilidades grosseiras fazem parte da agenda do Femen por toda a Europa, e suas vítimas, em geral, são vinculadas à Igreja Católica. Segundo o site espanhol Religion em Libertad, especializado em notícias sobre liberdade de credo, as ativistas nem sempre são manifestantes autênticas, vinculadas à alguma causa, mas sim mulheres pagas para realizar ações específicas. A remuneração só ocorre se o ato alcançar a mídia.
No ano passado, o Femen atacou o arcebispo de Bruxelas, na Bélgica, durante uma entrevista, atirando-lhe copos de água, e interrompeu uma missa celebrada pelo arcebispo de Colônia, na Alemanha, onde encenaram um aborto. O motivo ? Nunca fica muito claro. Sempre há berros, ofensas, obscenidades. Nunca argumentos.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/

Rolling Stone ou pedra sólida?



Papa Francisco vem acumulando capas de revista. Nos últimos meses, seu rosto sorridente estampou a capa da Time, como sua Personalidade do Ano. Ele foi destaque também na The New Yorker, na edição italiana da Vanity Fair e até em uma revista de ativismo gay dos EUA, a The Advocate. Agora,Francisco é capa da revista Rolling Stone e protagoniza um artigo de 7.700 palavras intitulado "The Times They Are A-Changin’", em referência a uma famosa canção do cantor pop Bob Dylan [“Os tempos estão mudando”, ndr].
 
papa pop também foi visto nesta semana enfeitando um muro da região romana de Borgo, logo ao lado dos portões do Vaticano. Com uma capa esvoaçante, Francisco foi representado “para o alto e avante”, como um super-herói dos quadrinhos.
 
Eu não gosto de ser desmancha-prazeres, mas, provavelmente, os mestres da cultura pop vão expressar seu “desapontamento” com o Papa Francisco muito em breve. A mudança que eles percebem é principalmente de estilo e de ênfase. Já a mudança que eles querem não é provável que aconteça, porque a mudança que a turma da imprensa mundial deseja é que o Papa Francisco adote a agenda progressista deles.
 
Esta semana, no Huffington Post, já houve rumores de que o Papa Francisco estaria desapontando os gays e as mulheres. Afinal, ele sorri e diz coisas agradáveis ​​como "Quem sou eu para julgar?", mas não permitiu mulheres-padres nem mexeu na doutrina da Igreja sobre a homossexualidade. A decepção (e, com ela, a raiva)já está começando a se revelar.
 
A imprensa popular precisa encarar o seguinte: as mulheres não vão ser ordenadas sacerdotes. Na famosa “entrevista do avião”, em que o papa disse "Quem sou eu para julgar?", ele também afirmou que "a porta está fechada para a ordenação de mulheres". E se ele não condenou duramente os atos homossexuais, também não os aprovou, nem vai aprovar.
 
O que observadores casuais não entendem é que o ensinamento moral católico está intimamente ligado à teologia católica. Os católicos não têm simplesmente um “livro de regras”, como se fosse um manual escolar que o papa pode editar e alterar a seu bel-prazer. A doutrina moral católica sobre a sexualidade humana se vincula ao que os católicos acreditam sobre a pessoa humana, e o que acreditamos sobre a pessoa humana se vincula ao que acreditamos sobre Deus Pai, seu Filho Jesus Cristo e Maria, a Mãe de Deus. No catolicismo, aquilo em que acreditamos e o modo como nos comportamos são uma unidade integrada, como duas mãos que se juntam em oração.
 
As altas expectativas levam muitas vezes a grandes decepções. Os católicos estão encantados com a popularidade do Papa Francisco, mas eu temo os “especialistas” da imprensa popular, que, claramente, têm grandes esperanças de uma mudança radical e serão radicalmente desiludidos. O Papa Francisco mostra a compaixão de Cristo para com os pobres e marginalizados, mas, segundo a sua própria afirmação, ele é um "filho fiel da Igreja", o que significa que a fé católica pode ser praticada com um estilo diferente, mas sem mudança alguma na essência.
 
O título da revista, "Rolling Stone" [“Pedra que Rola”, em tradução livre], é adequado para a cultura pop, já que a cultura pop é mesmo uma pedra que vai rolando, sempre mudando de lugar conforme as inconstantes atitudes e pressões sócio-políticas. Jesus Cristo disse, porém, que iria construir a sua Igreja não sobre uma pedra que rola, mas sobre uma pedra sólida, contra a qual nem os poderes do inferno poderão prevalecer. Esta pedra é Pedro, seu amigo, cujo sucessor é o Papa Francisco.
Fonte: http://www.aleteia.org/