Um mergulho na história esclarece: a universidade nasceu no seio da Igreja Católica. Foi esta, em plena efervescência gregoriana, nos séculos 11 e 12, quem, de início, atentou para a necessidade de que a formação do homem contemplasse o conhecimento de modo amplo. O curriculum escolástico propôs, por primeiro, um humanismo feito de gramática e retórica, bem como de todas as ciências naturais.Pensar, portanto, uma possível incompatibilidade entre o fato de ser universidade e ser católica revela desconhecimento e miopia de princípio. A Igreja Católica é a fonte da universidade.
Respeitados os tempos e suas demandas, a universidade no seio da Igreja Católica sempre se fez presente no esforço com que, honesta e responsavelmente, buscou as condições necessárias para o desenvolvimento humano. Em sua identidade, e por causa dela, o que diz respeito ao mundo e ao homem não lhe passa despercebido. Foi em seus espaços e por ela abrigado que um elenco significativo de homens de fé produziu ciência e cultura; uma imensa galeria de nomes em um incansável exercício de interação que não exclui, mas integra, ampliando o conhecimento em prol da vida.
O dinamismo da universidade católica e suas contribuições não podem ser negligenciados nem minimizados quando se olha para a amplitude da ciência e da cultura. A marca mais significativa dos valores cristãos, essência da universidade católica, implica no acolhimento da diferença e na liberdade responsável no que se refere à pesquisa. Seus objetivos são alcançados conjugando a pluralidade. Os enfrentamentos sentidos no dia a dia de suas atividades acadêmicas – uma comunidade de debate – são acolhidos e celebrados pela Igreja como fonte inesgotável de sua própria renovação. Animada pelo anúncio que se lê no Evangelho de João – que afirma: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” –, a universidade católica é presença profética na pesquisa científica que não pode ser feita a qualquer custo, principalmente aquele que diminui a dignidade do homem.
A universidade mantida pela Igreja Católica reclama e afirma sua identidade. Sim, sua identidade é proclamada. Não pode existir vergonha, receio, melindres ao se apresentar como católica, pois esta é sua riqueza. Sua fidelidade ao Magistério eclesiástico se efetiva no compromisso com a ampliação de todas as potencialidades humanas e, por isso, também seus recursos, por ser comunitária, são integralmente investidos na educação.
A universidade católica reconhece que fazer ciência não é incompatível com a aspiração à transcendência. Uma conversa com seus colaboradores e alunos vai revelar, antes de tudo, a alegria por tomar parte nessa comunidade educativa que ensina de um jeito diferente. Os testemunhos, mais que com palavras, se revelam nos exemplos. Quantos, por meio de seu trabalho e testemunho na universidade católica, fizeram a diferença?
Ser testemunha em um mundo pluralístico inclui envolvimento e diálogo com pessoas de diferentes culturas e religiões, pois não abandonamos nossas crenças quando adentramos em uma sala de aula ou em um laboratório; não se pode cair na tentação do pecado de exclusivismo religioso ou da xenofobia cultural. A atividade na universidade católica é um serviço, parte integral do anúncio evangélico.
Bortolo Valle é professor titular do programa de Pós-Graduação em Filosofia da PUCPR.