quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Nada perde quem aposta tudo no Amor Crucificado

Também hoje o Senhor sobe ao monte e chama os que Ele quer.

“Um seminário sacerdotal significa, com efeito, que também hoje o Senhor sobe ao monte e chama os que Ele quer. O seminário sacerdotal é este monte de Jesus”[1], essas palavras do então Cardeal Joseph Ratzinger enchem-nos de alegria. Jesus continua a subir ao monte e a chamar pelo nome os que “Ele quis” (Mc 3, 13), esperançoso em encontrá-los dispostos a renunciar aos próprios sonhos, anseios e projetos pessoais, para atender à Sua voz. Muitos são os que, todos os anos, entregam-se com coragem a esse chamado e sobem ao monte de Jesus. Esse mistério deve nos maravilhar e encantar sempre de novo, de modo único.
Num mundo marcado pelo ateísmo, individualismo e relativismo, pelo provisório e descartável, ousar decisões definitivas[2], que visam o primado absoluto de Deus na própria vida, soa como uma grande loucura. Na realidade, é muito comum alguém que se decide entrar no seminário escutar reprovações do tipo: “você está ficando louco? Não desperdice assim sua vida”. Essas indagações nos fazem lembrar do homem rico que, recebendo o convite do Mestre para vender tudo e segui-lO, foi embora cheio de tristeza, “pois possuía muitos bens” (Mc 10, 22), a atitude desse homem dizia: “vou desperdiçar todos os meus bens? Vou desperdiçar minha vida?”. Também Judas Iscariotes se expressou de forma semelhante, ao ver Maria ungindo os pés de Jesus com nardo puro: “por que este perfume não foi vendido por trezentos denários?” (Jo 12, 5), ou seja: “que grande desperdício!”.
Contudo, “não pode perder aquele que aposta tudo no amor crucificado do Verbo encarnado”[3]. O Papa Bento XVI, no início do seu ministério petrino, comentando as palavras de João Paulo II, expressou o medo que há no coração humano diante desse “apostar tudo” em Cristo, e a grandeza que há no doar-se por Ele:
Porventura não temos todos nós, de um modo ou de outro, medo, se deixarmos entrar Cristo totalmente dentro de nós, se nos abrirmos completamente a Ele, medo de que Ele possa tirar-nos algo da nossa vida? Não temos porventura medo de renunciar a algo de grandioso, único, que torna a vida tão bela? Não arriscamos depois de nos encontrarmos na angústia e privados da liberdade? E mais uma vez o Papa queria dizer: não! Quem faz entrar Cristo, nada perde, nada, absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que liberta. Assim, eu gostaria com grande força e convicção, partindo da experiência de uma longa vida pessoal, de vos dizer hoje, queridos jovens: não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira[4].
“Quem faz entrar Cristo, nada perde”, mesmo que dê tudo! Aquele que é chamado pelo Senhor compreende que “a maior honra que Deus pode fazer a uma alma não é dar-lhe muito, mas pedir-lhe muito”[5], ao mesmo tempo que percebe o encontro do chamado de Deus com os anseios mais profundos de sua existência. Testemunha São Paulo: “Por causa dele, perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele” (Fl 3, 8).
Que esses jovens, que respondem com coragem ao chamado do Senhor e sobem ao monte, sejam acompanhados por nossas orações e penitências. Sabemos que o tempo de seminário, como bem lembrou Bento XVI, é “tempo destinado à formação e ao discernimento [..], tempo de caminho, de busca, mas sobretudo de descoberta de Cristo. [...] somente na medida em que faz uma experiência pessoal de Cristo, o jovem pode compreender verdadeiramente a sua vontade e em consequência a própria vocação”[6]. É necessário, assim, que os ajudemos nesse discernimento vocacional e encontro com Cristo por nossa companhia espiritual.
Àqueles que se sentem chamados, mas ainda relutam em meio às dúvidas e temores, vale seguir o conselho paternal de Bento XVI:
É importante estar atentos aos gestos do Senhor no nosso caminho. Ele fala-nos através de acontecimentos, de pessoas, de encontros: é preciso estar atentos a tudo isto. Depois, o segundo ponto, entrar realmente na amizade de Jesus, numa relação pessoal com Ele e não saber só através de outros ou dos livros quem é Jesus, mas viver uma relação cada vez mais aprofundada de amizade pessoal com Jesus, na qual podemos começar a compreender o que Ele nos pede. E depois, a atenção ao que somos, às nossas possibilidades: por um lado, ter coragem e, por outro, ser humildes, confiantes e abertos, com a ajuda dos amigos, da autoridade da Igreja, dos sacerdotes, e também das famílias: que quer de mim o Senhor? Sem dúvida isto permanece sempre uma grande aventura, mas a vida só pode ser bem sucedida se tivermos a coragem da aventura, a confiança de que o Senhor nunca nos deixará sozinhos, que nos acompanhará e nos ajudará[7].
Por Equipe Christo Nihil Praeponere

Referências

  1. RATZINGER, Joseph. Servidor de vuestra alegría. Barcelona: Herder Editorial, 2005, p. 77-78
  2. Bento XVI. Discurso no Encontro com os Jovens em Luanda (Sábado, 21 de Março de 2009):“Eu digo-vos: Coragem! Ousai decisões definitivas, porque na verdade são as únicas que não destroem a liberdade, mas lhe criam a justa direção, possibilitando seguir em frente e alcançar algo de grande na vida”.
  3. Bento XVI. Discurso durante o encontro com os jovens no parque de Blonia (Cracóvia, 27 de Maio de 2006).
  4. Bento XVI. Homilia para o início do ministério petrino do bispo de Roma (Praça de São Pedro, 24 de Abril de 2005).
  5. Santa Teresa do Menino Jesus, Carta 172.
  6. Bento XVI. Discurso aos seminaristas durante o encontro na Igreja de São Pantaleão (Colónia, 19 de Agosto de 2005).
  7. Bento XVI. Encontro com os jovens de Roma e do Lácio em preparação para a XXI Jornada Mundial da Juventude (Quinta-feira, 6 de Abril de 2006).

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