sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Segredos do Vaticano: jornal dos Bispos Italianos “Avvenire” revela que “houve uma conspiração para forçar a renúncia de Ratzinger”.

Por Antonio Socci | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com: Ontem, ficamos sabendo – nada menos a partir das páginas de “Avvenire”, o jornal da Conferência Episcopal Italiana (CEI) – algo que nem mesmo eu cheguei a escrever no meu livro “Não é Francisco”, sobre a (até agora) misteriosa “renúncia” de Bento XVI.

De fato, na página 2 do jornal da Conferência Episcopal se podia ler, na íntegra, que houve “ambientes que, pelas razões habituais de poder e opressão, traíram e conspiraram para eliminar o Papa Ratzinger, apesar de reconhecê-lo como um excelente ‘teólogo’, e o “forçaram à renúncia”.
Você leu bem. É uma notícia perturbadora. Afirma-se – sem nenhuma condicional – que existem “ambientes” que “traíram e conspiraram para eliminar o Papa Ratzinger” e até mesmo “levá-lo à renúncia.”
A este ponto se torna absolutamente obrigatório citar nomes e dizer abertamente quem são eles.
Pois isso não se trata de coisa de pouca monta. Cabe aqui ressaltar que, se tudo aconteceu exatamente assim, aquela “renúncia” é inválida porque – para ser válida, sob o direito canônico – deve ser totalmente livre de condicionamentos e restrições de qualquer tipo (e, portanto, o sucessivo conclave também teria sido inválido).
O aspecto surpreendente da controvérsia é que essas linhas estão contidas em um artigo juntamente com outro e são expressamente confirmadas pelo diretor de “Avvenire”, Marco Tarquinio, que, sobre os dois artigos, escreve que eles “oferecem pensamentos e colocam questionamentos sérios”.
Nas palavras de Tarquinio, não há o menor distanciamento da notícia – dada como algo certo – sobre a “conspiração” que levou à “renúncia” de Ratzinger.
Evidentemente que Tarquinio foi também levado pela onda de ataques a Vittorio Messori – o qual  foi o alvo direto dos dois artigos – e assim, na página 2, acabou publicando esta “bomba” com a qual querem que acreditemos, com grande descaso pelo ridículo, que os “inimigos” de Francisco são exatamente os mesmos “inimigos” de Bento XVI.
De fato, esse foi o título que “Avvenire” deu ao artigo: “Messori: Inimigos de Francisco e de Bento”.
Caso Messori
Ora, o excesso de zelo de vez em quando prega umas peças bem feias, pois até as crianças estão cansadas de saber que aqueles que boicotaram incessantemente Papa Ratzinger hoje são todos defensores ardorosos de Bergoglio.
E é o que demonstra as notícias e crônicas publicadas atualmente. Tudo isso é de uma evidência solar, não apenas no mundo católico, mas também no secular, onde, entre os partidários do Papa Bergoglio, estão na linha da frente Eugenio Scalfari e Marco Pannella. Além do mais, se é ridículo afirmar que os “inimigos” de Ratzinger são os mesmos opositores de Bergoglio, mais inaceitável ainda é insinuar que Vittorio Messori poderia ser contado entre os “inimigos” de Bento XVI. Isso é realmente uma piada.
A parceria intelectual que o liga a Ratzinger é de longa data e começa com o livro que marcou época “Rapporto sulla fede”, um livro-entrevista com o então cardeal bávaro que marcou um ponto de virada na Igreja pós-conciliar porque pôs um freio na onda de “autodemolição” progressista e modernista dos anos 70 e expôs os fundamentos da reconstrução da era Wojtyla, que é a redescoberta da fé de todos os tempos.
Esse livro, entre outras coisas, fez com que ambos, tanto o cardeal como o jornalista, se tornassem alvos dos furiosos ataques dos círculos progressistas habituais. Eis como lembrou Messori em um de seus artigos: “O ‘Rapporto sulla Fede’ saiu em 1985.  Faltavam apenas quatro anos para a queda do Muro de Berlim, mas, apesar disso, dentro da Igreja vastos setores estavam ainda vivendo uma fase de enamoramento por um comunismo que haviam descoberto com paixão, igualmente tardia. Tudo naquele livro provocou a indignação de quem se dizia ‘progressista’ (e que estava prestes a acabar na contra-mão da história). Tudo, mas antes de qualquer outra coisa, a nova definição do marxismo segundo Ratzinger: ‘Não esperança, mas a vergonha nosso tempo'”.
A associação intelectual entre Ratzinger e Messori é de uma sincera estima recíproca e, com o tempo, eu creio que se tornou também uma amizade profunda.
Se tem um intelectual que podemos indicar como um símbolo da época Ratzinger (ou seja, do renascimento e reconstrução da ortodoxia) é justamente Messori. Assim, o fato de que hoje, o jornal da Conferência Episcopal Italiana ter como alvo Messori (pela enésima vez), além do mais por meio de artigos publicados (com a covarde estratégia de jogar a pedra e esconder a mão) com esse título:”Messori: ‘inimigos’ de Francisco e Bento”, me deixa literalmente indignado.
De resto, tenho certeza que Messori não se sente e não é “inimigo” nem mesmo de Francisco, pelo qual – juntamente com alguma apreciação – se limita a expor algumas de suas perplexidades.
Nas últimas décadas, os papas (de Paulo VI a João Paulo II e Bento XVI) foram “bombardeados” sem que ninguém reclamasse. Hoje, ao invés, chegamos então a um ponto de intolerância tão forte que um grande intelectual católico como Messori é jogado na fogueira, por uma nova Inquisição ideológica, apenas por expressar suas pacatas e respeitosas “perplexidades”?
Outras revelações
Além de tudo, aquele artigo — credenciado pelo diretor de “Avvenire” – antes das linhas explosivas sobre a “conspiração”, diz outra coisa que causa surpresa ao ler no jornal da CEI: “uma pessoa simples como eu tem a nítida sensação de que há uma luta de poder em ação na igreja e em torno dela, e que o ataque contra o Papa é dirigida por freqüentadores de ‘certos salões’ (…). Temo que se trate dos mesmos ambientes que, pelas razões habituais de poder e opressão, traíram e conspiraram para eliminar o Papa Ratzinger (…) e o forçaram à renúncia.”
A este ponto, seria o caso de exigir de Tarquinio, que publicou e aprovou tal artigo, que ele nos explique finalmente que “conspiração” foi essa da qual foi vítima Papa Bento XVI, que ilustre a atual “luta de poder na Igreja” e que, finalmente, revele claramente o que são esses “salões” e seus “frequentadores”.
Esta última referência, além de vaga, é absurda. Por que os “bons salões” dos poderes mundanos – como demonstra a cada dia seus jornais e diários – são todos de fãs ardentes do Papa Bergoglio.
Provavelmente, o zelo excessivo de Tarquinio ao querer exibir para qualquer poderoso da Cúria sua oposição a Messori acabou por fazê-lo escorregar numa casca de banana.
O diabo, dizem, faz as panelas, mas não as tampas. E agora nos deparamos com um jornal da CEI que afirma claramente que Bento XVI renunciou na sequência de uma “traição” e de uma “conspiração” e que hoje, na Igreja, está em ação uma “luta de poder”. Peço que Tarquinio tente colocar uma tampa nessa panela.
Talvez ele poderia fazê-lo através da publicação de outra entrevista, como aquela de alguns dias atrás, na “Radio Radical”, onde ele teceu um diálogo amigável e promissor com os radicais (saudações!) e voltou a defender o líder radical Pannella e a repetir suas críticas injustas e incoerentes contra Messori.
Até mesmo os líderes da CEI deveriam se ocupar dessa denúncia  e dar explicações sobre a “conspiração” contra Bento XVI que o “empurrou para a renúncia”, segundo o que podemos ler em “Avvenire”.
E, no Vaticano, o padre Federico Lombardi, diretor da imprensa, o que  tem a nos dizer sobre a notícia explosiva de “Avvenire” sobre a “conspiração” que levou à “renúncia” do Papa Bento XVI?
Antonio Socci
Do “Libero” 08 de janeiro de 2015

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