sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Supreso: A conversa do Cardeal Joachim Meisner com Papa Francisco.

Da edição de ontem de Il Foglio (tradução: Fratres in Unum.com): No dia de Natal, ele completou oitenta anos — comemorados com a irrupção de uma ativista do Femen fazendo topless na Catedral de Colónia, enquanto celebrava missa — e “no mais tardar, no final de fevereiro”, deixará, após 25 anos, o governo da grande diocese da Renânia Setentrional.
Cardeal Joachim Meisner.
Cardeal Joachim Meisner.
Antes das saudações, no entanto, o Cardeal Joachim Meisner quis advertir o seu superior imediato, o Papa, de que não se envolvesse demais em disputas com o mundo. Não o fez por meio da imprensa ou por carta entregue na Casa Santa Marta, mas em pessoa. Um encontro olho a olho no qual “pude falar livremente ao Santo Padre sobre muitas coisas”, disse Meisner à rádio pública alemã. “Disse-lhe que seus pronunciamentos em forma de entrevistas e declarações breves deixa muitas perguntas sem respostas, que, pelo contrário, deveriam ser explicadas de modo mais amplo”. Francisco, acrescentou o prelado, “ficou surpreso e me pediu para lhe dar alguns exemplos. E eu falei acerca do que ele disse durante a viagem de volta de avião do Rio para Roma”. Ponto sensível, as frases sobre a readmissão dos divorciados recasados aos sacramentos, a comunhão primeiramente. Falar muito misericórdia de é também perigoso: “Arrisca-se cobrir com essa palavra todas as falhas humanas”. Nesse ponto — declarou ainda o arcebispo de Colônia — o Papa “respondeu de modo muito enérgico que ele é filho da igreja e não disse nada senão reafirmar os ensinamentos da Igreja”. A misericórdia, esclareceu Francisco no encontro com Meisner, “deve corresponder à verdade ou não pode ser definida como misericórdia”. Ademais, se houver qualquer questão teológica pendente , “há a Congregação para a Doutrina da Fé”, acrescentou Bergoglio. Assim, para dúvidas ou questões específicas, há Dom Gerhard Müller, o guardião da ortodoxia, colocado aí por Joseph Ratzinger e o primeiro monsenhor da cúria a ser confirmado por seu sucessor.
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[Atualização - 3 de janeiro de 2014, às 8:36] Um gentil leitor nos envia sua tradução de excertos da entrevista veiculada em espanhol por Info Católica:
–(…) Os temas família e matrimônio são atuais, o debate sobre os divorciados que voltaram a casar parece dividir a Igreja na Alemanha. Qual é sua posição?
–Caro senhor Liminski, em todo momento, a Igreja, especialmente os bispos junto com o Papa têm o dever de dar o exemplo, diante dos homens, de obediência à Palavra de Deus. Os bispos também compartilham com o Papa o Magistério. Mas sempre cum Petro et sub Petro, isto é, com Pedro e sob Pedro. Assim, que qualquer dissenso entre o ensinamento do Papa e o do bispo é teoricamente inadmissível. Deixe-me acrescentar algo mais: desde tempos imemoriais a Igreja está convencida de que a unidade de Cristo com sua Igreja, que é o seu corpo, é normativa também para o matrimônio. E o apóstolo Paulo o disse explicitamente: «O matrimônio é um mistério profundo. Eu me refiro a Cristo e à Igreja». E Cristo disse então, logicamente, que o que Deus uniu, não o separe o homem. A isto não há realmente nada mais a acrescentar. Pode você pensar talvez que isto eu lanço como um tiro. É que todos os dias me vejo confrontado com estas questões e por isso sua pergunta não era nova para mim.
–Esta não é a mesma posição, idêntica, que a de seu colega Zollitsch. Ele chama a uma maior integração na vida comunitária, também uma integração das pessoas divorciadas. E crê que em Roma também haveria diferentes opiniões sobre isso. Desse modo a opinião da CDF, não seria, portanto, mais importante que as outras. Então, o que é que está valendo?
–Sr. Liminski, escute por uma vez a um velho bispo. Em minha última visita ao Papa Francisco pude falar muito francamente com o Santo Padre sobre todos os temas. E também lhe disse que quando fala em forma de entrevistas e breves discursos ficam algumas perguntas abertas, que para os não iniciados deveriam na realidade explicar-se melhor. O Papa me olhou fixamente e me disse para lhe mencionar um exemplo.
E minha resposta foi então que em seu regresso do Rio a Roma, enquanto viajava no avião, mencionou-se a ele o problema dos divorciados que voltaram a se casar. Então o Papa simplesmente me respondeu: «os divorciados podem comungar, mas não os divorciados casados novamente. Na Igreja Ortodoxa se pode casar duas vezes». Até aqui sua declaração.
Logo falou da misericórdia que, contudo, em meu modo de ver, e assim lhe disse, neste país sempre se interpreta como um substituto de todas as possíveis faltas do homem. E o Papa me respondeu muito enérgico que era um filho da Igreja Católica, e que ele não disse outra coisa que o que a Igreja ensina. E a misericórdia deve ser idêntica à verdade, caso contrário não merece o nome de misericórdia.
E, ademais, ele me disse expressamente que quando certas questões teológicas se mantêm abertas, então a importante Congregação para a Doutrina da Fé está aí, para esclarecer e formular detalhadamente. Também deve-se pensar que antes do Concílio o próprio Papa era o prefeito desta congregação, e ela é, na ordem curial, a que está no primeiro lugar, hoje como antes. Não se pode falar do Prefeito como se fosse um cidadão particular, somente porque ele anteriormente foi membro da Conferência Episcopal (alemã).
–Agora o Papa iniciou uma consulta de opinião acerca da família, do matrimônio e da moral sexual diante do Sínodo do próximo outono. E para Colônia já há resultados. Assim se observa que em relação ao povo as coisas vão de modo diferente que em Roma. A Igreja não deveria, deve, adaptar-se?
–Também disse com antecipação que a Igreja tem que adaptar-se à Palavra de Deus e não à opinião das pessoas. Devemos, como Igreja, conhecer a opinião das pessoas, para depois proclamar a Palavra de Deus em função disto. Mas adaptar-se do modo que você pergunta não é uma categoria do Evangelho. É surpreendente que, por exemplo, a Igreja Evangélica Luterana, com seu documento de tomada de posição sobre a temática da sexualidade, se tenha alinhado totalmente com o chamado espírito dos tempos nos assuntos da sexualidade. E como se encontra a situação da Igreja Evangélica Luterana?  Ouvi dizer que os números de abandono da igreja luterana são ainda mais altos que os nossos. De maneira que, em última instância, este êxodo não pode dever-se à questão da sexualidade.
–O ZdK (comitê central dos católicos alemães) o vê um pouco diferente. O Presidente Glück advoga por adaptar-se e integrar plenamente os divorciados que voltaram a casar, isto é, admiti-los também na Eucaristia. O ZdK quer casar-se com o espírito dos tempos, se poderia dizer. Aí desertam unidades inteiras dos exércitos cristãos. Não tem medo do isolamento?
–Bem, não conheço o medo do isolamento. Na escola primária, na Turíngia, eu era o único aluno católico. E sempre estava no meio e não me deixava isolar. A missão do ZdK é fazer visível e efetivo o Evangelho nas dimensões do secular, quer dizer, no mundo. E aqui, este grêmio deve se fazer realmente, com seriedade, a pergunta: mantiveram-se fiéis a sua missão e vocação?
E formula você, neste contexto, a pergunta de se eu hei de temer um certo isolamento? O que eu tenho é autêntica preocupação pelas pessoas que deformam como lhes convêm sua própria fé ao invés de aceitá-la respeitosamente como o próprio Cristo nos confiou. Isto não traz nenhuma solução. No século IV, por causa da heresia dos arianos, se dizia que da noite para o dia, a Igreja havia se tornado ariana. Mas isso não ficou assim. Converteu-se em católica de novo. E por isso, por hostis que sejam os números, não me assustam. Devo dizer que simplesmente devemos nos perguntar o que Deus quer.
E a Igreja sabe desde há 2.000 anos que o que Deus uniu o homem não pode separar. Outra questão diferente é a de se todos os matrimônios são realmente válidos. Se deveria haver critérios novos que permitissem determinar se um matrimônio não ocorreu realmente e não é válido. Mas essa é outra questão. Aí não se trata da admissão dos divorciados que voltaram a casar à Santa Comunhão.

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