quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Vaticano investe um milhão de euros em apoio a pesquisas em células tronco ADULTAS



Vatican Insider

“Put your money where your mouth is”, recita um ditado norte-americano. Poderia ser traduzido mais ou menos como “faça o que as suas palavras dizem”. E parece que o Vaticano, em uma questão de fronteira e controversa como a pesquisa com células-tronco adultas, decidiu seguir precisamente essa linha.

O Vaticano organizou,colaborção com a empresa farmacêutica NeoStem, um congresso internacional de três dias sobre os aspectos médicos, filosóficos e culturais da “medicina regenerativa”, baseada em células-tronco derivadas dos tecidos de pessoas adultas.

Mediante a fundação Stoq International, com sede nos EUA, o Conselho Pontifício para a Cultura decidiu financiar com um milhão de euros as atividades da NeoStem e da fundação Stem for Life, organização sem fins lucrativos criada pela empresa para sensibilizar a opinião pública sobre as células-tronco adultas.

Por enquanto, explicou o Pe. Tomasz Trafny, diretor do escritório Ciência e Fé do dicastério vaticano e da Stoq, o dinheiro, pelo menos por enquanto, não vai apoiar a verdadeira atividade de pesquisa com células-tronco, mas sim atividades de caráter cultural, como o congresso que inicia nesta semana em Roma.
“Mas no futuro – acrescentou – não excluímos apoiar nenhuma atividade de pesquisa particular”, sempre tendo em mente que o Vaticano não tem laboratórios e que “a nossa tarefa é formar os sacerdotes e os católicos” sobre temas tão delicados e complexos.
O envolvimento econômico do Vaticano nasce, explicou o Pe. Trafny, do pedido explícito de alguns dos doadores da fundação, que queriam que o seu dinheiro fosse destinado a esse objetivo.

O que o Vaticano está fazendo não é um investimento, e a fundação Stoq Internacional não comprou ações da NeoStem (ela está listada na bolsa de Nova York). Ao contrário, o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, remeteu o financiamento vaticano à “gloriosa tradição” do “mecenatismo”.

O Vaticano, de fato, acredita muito nas potencialidades – não só médicas – das células-tronco adultas. É a oportunidade – para uma Igreja muitas vezes acusada de obscurantismo e de ser “inimiga” da ciência – para se colocar na primeira fila de um setor de vanguarda, mostrando com os fatos como o progresso científico não está em conflito com o respeito daqueles que, para a fé católica, são as insuperáveis “estacas” éticas da atividade humana.
Para fazer isso, o Conselho Pontifício para a Cultura também pôr de lado as dúvidas de quem se perguntava se era o caso de colocar o Vaticano ao lado de uma empresa com fins lucrativos como a NeoStem e se não seria melhor escolher como parceira, por exemplo , uma universidade. “Uma pesquisa deste tipo – explicou o cardeal Ravasi – precisa de fundos ingentes que não podem vir apenas de entidades de caráter social e cultural”.
Ou melhor, ele sugeriu, a partir desse acordo, também pode surgir um incentivo para aItália – país em que, como se sabe, o setor privado investe muito pouco em pesquisa.
Para o Vaticano, não foi fácil encontrar o parceiro certo para um projeto de longo prazo, que fosse além do financiamento ocasional de um evento. Sobretudo porque, ressaltou oPe. Trafny, “o nosso objetivo não é correr atrás da ciência, mas sim analisar o que a ciência poderá fazer amanhã”.
O fato de a Igreja ter entrado em campo tão resolutamente em favor das células-tronco adultas levantou muitas reações no mundo científico. O debate sobre o potencial das células-tronco embrionárias em comparação às adultas está aceso, e há quem olhe com desconfiança para o compromisso vaticano.
Por exemplo, no seu blog, Paul Knoepfler, da Universidade da Califórnia em Davis, se pergunta por que o Vaticano optou por se focar na NeoStem – uma empresa cujo desempenho na bolsa nos últimos tempos foi tudo menos róseo, em parcial tendência contrário em comparação com outras empresas do setor.
“A minha principal preocupação – escreveu – sobre essa conferência e sobre o envolvimento do Vaticano na pesquisa com células-tronco é que isso será usado como plataforma para atacar as células-tronco embrionárias e para ‘lançar’ a pesquisa com as adultas”.
Mas, provavelmente, um dos objetivos do Vaticano é justamente esse, embora o  Conselho Pontifício para a Cultura, explicou o Pe. Trafny, não queira participar de uma guerra cultural, mas sim evitar que ela exploda.

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