No Consistório secreto em que se discutiu o tema dos divorciados em segunda união e a Eucaristia, “o teorema Kasper” teve pouquíssimo consenso e muita crítica. Aqui vai uma reconstrução de algumas intervenções mais significativas e importantes. “Seria um erro fatal”, disse alguém, querer trilhar o caminho da pastoralidade, sem fazer referência à doutrina.
Todavia, uma outra metade do Consistório permaneceu secreta: a que diz respeito à intervenção dos outros Cardeais. E talvez não por acaso, já que depois que Kasper apresentou sua longa exposição, inúmeras vozes se levantaram para criticá-lo. Tanto é assim que lá pela tarde, quando o Papa deu-lhe a tarefa de responder às muitas críticas, o tom do prelado alemão parecia menos eloquente, pra não dizer aborrecido.
A opinião corrente é que o “teorema Kasper” tende a garantir que os divorciados em segunda união possam ser readmitidos à recepção dos Sacramentos sem que o matrimônio anterior tenha sido declarado nulo.
Atualmente isso não ocorre, pois tal doutrina tem como base as palavras de Jesus que são muito severas e explícitas sobre o divórcio. Quem tem uma vida matrimonial completa sem que o primeiro casamento tenha sido considerado inválido pela Igreja, de acordo com a doutrina atual, se encontra em uma situação permanente de pecado.
Nesse sentido, falaram claramente o cardeal de Bolonha, Caffara, bem como o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o alemão Mueller. Igualmente explícito foi o Cardeal Walter Brandmuller (“Nem a natureza humana , nem os Mandamentos e nem o Evangelho tem uma data de validade… É preciso coragem para dizer a verdade , mesmo contra o costume atual. Uma coragem que qualquer pessoa que fala em nome da Igreja deve ter, se não quiser falhar em sua vocação… o desejo de obter aprovação e aplauso é sempre uma tentação na disseminação do ensinamento religioso…” e então ele tornou pública suas palavras ).
Até o presidente da Conferência dos bispos italianos, o Cardeal Bagnasco, expressou de forma crítica sua opinião a respeito do “teorema de Kasper”, bem como o Cardeal africano Robert Sarah, “Cor Unum”, que lembrou, em seu discurso de encerramento, como no curso dos séculos não faltaram questões dramáticas, divergências e controvérsias dentro da Igreja, mas que o papel do Papado sempre foi aquele de defender a Doutrina.
O Cardeal Re, um dos cabos eleitorais de Bergoglio, fez um brevíssimo discurso que pode ser resumido assim: “eu vou tomar a palavra por um momento, porque aqui estão os futuros novos Cardeais e talvez alguns deles não tenham a coragem de dizê-lo, então, eu mesmo vou dizer: eu sou totalmente contra essa exposição do Cardeal Kasper”.
O Prefeito da Penitenciária Apostólica, Cardeal Piacenza, também se opôs e mais ou menos disse: “estamos aqui agora e estaremos novamente em outubro para um Sínodo sobre a Família, e então, se queremos fazer um Sínodo positivo, não vejo por que deveríamos tocar na questão da comunhão para divorciados”. E acrescentou: “se queremos fazer um discurso pastoral, me parece que deveríamos encarar esse pan-sexualismo em voga e a agressiva ideologia de gênero que tende a minar a família como sempre a conhecemos. Isso sim seria providencial, se fôssemos ‘lumen gentium’ pra explicar em que situação nos encontramos e o que pode destruir a família”. Concluiu, em seguida, exortando a uma retomada da catequese de João Paulo II sobre o corpo, porque ela contém muitos elementos positivos sobre sexualidade, sobre o ser homem e mulher, procriação e amor.
O Cardeal Tauran, para o Diálogo Inter-Religioso, voltou ao tema do ataque à família, tendo em vista o relacionamento com o Islamismo. E também o Cardeal Scola de Milão, levantou suas preocupações teológicas e doutrinais.
Igualmente crítico foi o Cardeal Camillo Ruini, que acrescentou: “Não sei se eu prestei bem atenção, mas me parece que até agora 85% dos Cardeais se manifestaram contra a imposição desse relatório. Somando-se aqueles que não disseram nada, creio que podemos classificar seu silêncio como um sinal de que ficaram constrangidos ou envergonhados”.
O Cardeal Ruini então citou o Papa Bom, dizendo em essência: quando João XXIII fez o discurso da abertura do Concílio Vaticano II disse que poderíamos fazer um Concílio Pastoral porque felizmente a Doutrina era pacificamente aceita por todos e não havia disputas ou controvérsias nesse sentido, então poderíamos dar uma conotação pastoral sem medo de sermos mal interpretados, uma vez que a doutrina permaneceria muito clara. Se João XXIII estava certo naquele momento, enfatizou o Cardeal, só Deus sabe, pois, aparentemente, em grande parte, talvez até fosse verdade. Mas hoje, de modo algum podemos repetir o mesmo porque a Doutrina não apenas está sendo minada, mas absolutamente combatida. Seria um erro fatal querer percorrer o caminho da pastoralidade sem fazer referência à doutrina.
Compreensível, portanto, que o Cardeal Kasper parecesse um pouco aborrecido na parte da tarde quando o Papa Bergoglio lhe permitiu responder, embora para evitar que suas contradições ficassem expostas, apenas ele teve direito à voz.
Vale acrescentar que as críticas feitas ao “teorema Kasper” estão só aumentando e, de modo privado, estendendo-se também ao Papa; e de modo público, por parte de outros Cardeais em várias partes do mundo.
Cardeais alemães, que estão familiarizados com Kasper, dizem que desde os anos 70 que ele é apaixonado sobre esse assunto. O problema apontado por vários críticos é que sobre esse assunto o Evangelho é muito explícito. E não levar isso em conta – esse é o temor – o tornaria muito instável, e moldável para qualquer outro ponto de doutrina que tem como base os Evangelhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário