ARTIGOS - ABORTO
Em alguns países da Comunidade Européia já não é mais possível formar-se em medicina, se o estudante recusar-se a praticar um aborto em seus últimos anos de graduação.
O aborto está amplamente legalizado no mundo desenvolvido e no continente asiático. Na Europa, na América do Norte, na Austrália e em países da Ásia. Com pouquíssimas exceções (onde se legalizou) o número de abortos tem aumentado a cada ano, especialmente após a sua aprovação, nos Estados Unidos. Em 20 anos, o aumento foi espantoso: 200 mil para mais de um milhão e meio por ano. O número de abortos também cresceu a cada ano, sem nenhuma diminuição até hoje na Espanha, Inglaterra, Canadá, África do Sul, Nova Zelândia, Austrália, Índia, Rússia, Cuba e muitos outros. Com isso cresce gradativamente a banalização da vida, em todos os aspectos. O aborto, que era antes um crime, passou a ser propositalmente propagandeado, primeiro como um problema de saúde pública, depois como um direito das mulheres, considerado não mais como um mal menor que a sociedade tolera por uma questão de saúde pública, mas explicitamente um novo direito humano, o direito de matar, por qualquer motivo, o próprio filho não nascido.
Nos Estados Unidos, desde 1973, o aborto está legalizado durante todos os nove meses da gravidez. A perda do respeito pela vida humana nascitura está em um processo muito avançado na Europa, onde muitos consideram a defesa da vida uma batalha quase perdida. Hoje, os que desejam impor a cultura da morte na Europa e nos Estados Unidos estão focados também na eutanásia, introduzida no início apenas para casos difíceis, mas que depois passa a ser apresentada como um novo direito para que ninguém mais tenha que morrer devido à idade e tenha a devida proteção requerida. A vida se torna extremamente vulnerável em sua fase nascente e poente. Há ainda o fim do direito à objeção de consciência, para que os médicos não possam mais negar-se a praticar um aborto. Em alguns países da Comunidade Européia já não é mais possível formar-se em medicina, se o estudante recusar-se a praticar um aborto em seus últimos anos de graduação. A ONU, que outrora defendia os direitos humanos, agora pressiona os governos cujas legislações ainda defendem a vida, para que legalizem o aborto, e sustenta (para fundamentar sua posição), que a personalidade jurídica e o direito à vida, no direito internacional, somente se iniciam após o nascimento. Organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional, que antes defendia a vida dos presos políticos, agora apregoam o aborto como um novo direito humano.
Como chegamos a isso? É evidente que não se trata de uma evolução espontânea da sociedade. Tudo começou em 1952, quando as organizações Rockefeller assumiram (como um princípio) que em um futuro próximo a maior ameaça à segurança mundial não seria a guerra nuclear, nem a pobreza, nem o terrorismo, mas a explosão populacional, a qual não poderia ser controlada sem o recurso ao aborto. Seguindo tal raciocínio, foram abertos programas de planejamento familiar em todo o mundo, com pesado financiamento ao aborto, não apenas a sua legalização, mas também a prática do aborto clandestino. Nos anos 60 e 70 a USAID, com um orçamento anual de mais de uma centena de milhões de dólares para programas populacionais, desenvolveu um programa de esterilização forçada em todo o mundo em desenvolvimento, criou e distribuiu clandestinamente novos fármacos abortivos, treinou e equipou dezenas de milhares de médicos em todos os países do mundo, onde o aborto ainda era ilegal com equipamentos para práticas abortivas.
Nos anos 80, os cientistas sociais que trabalhavam nas organizações que financiavam a estratégia do controle do crescimento populacional, descobriram que todos os esforços, que haviam contribuído decisivamente para a diminuição da natalidade mundial, estavam atingindo um patamar além do qual não era possível passar. A simples oferta de serviços de planejamento familiar, da esterilização e, principalmente, do aborto provocado não poderia produzir o crescimento zero da população, simplesmente porque as pessoas, embora quisessem ter menos filhos, não queriam ter tão poucos filhos quanto seria necessário. Em 1990, segundo um relatório do programa populacional da Fundação Ford (uma das principais promotoras do aborto no mundo de hoje), a simples oferta de serviços de contracepção, esterilização e aborto poderia responder provavelmente por 40% da redução necessária da taxa de natalidade. Os demais 60% deveriam ser alcançados por outros meios não clínicos.
Em outras palavras, para controlar o crescimento populacional não bastaria apenas disponibilizar o aborto, mas era necessário também produzir mudanças básicas na sociedade de tal maneira que as próprias pessoas não quisessem ter mais filhos. É a revolução cultural em curso. Para isso, seria necessário “emancipar” a mulher e criar novos direitos sexuais e reprodutivos, introduzir novos modelos alternativos de família, produzir mudanças nos esquemas conceituais da ética e da moral cristã, introduzir uma educação sexual propositalmente cada vez mais liberal, incentivar o movimento homossexual, financiar a dissidência dentro da Igreja Católica, criar uma rede de cientistas sociais que pudessem gerenciar o modo de conduzir estas mudanças, atrair fundações milionárias que se dispusessem a financiar uma rede internacional de novas ONGs que executassem em todo o mundo este plano cuidadosamente planejado, fazendo parecer a cada país que se trataria de um movimento espontâneo, exigido pelo próprio povo local. Tudo isso insere a questão do aborto na lógica perversa da manipulação, a pior de todas as violências.
Hermes Rodrigues Nery é coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida e do Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté. Especialista em Bioética, é pós-graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. E-mail: hrneryprovida@gmail.com.
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