AFP
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Na França, a Páscoa deste ano foi marcada por uma nova revolução... Em vez de coelhinhos cor-de-rosa e ovos coloridos, os canais de televisão mostram torsos desnudos de jovens do movimento Hommen. Ao contrário das moças do grupo Femen, que profanaram a Catedral da Nossa Senhora de Paris, estes rapazes pugnam pelos valores da família na sua interpretação tradicional. Eles estão contra a lei de casamentos homossexuais, que será votada amanhã, 4 de abril, no Senado da França.
Mas quem poderia imaginar que seria precisamente na França que haveria uma resistência tão encarniçada à legalização de casamentos homossexuais?
Aparentemente, a liberdade nas questões amorosas sempre foi algo fundamental neste país e, inclusive, um pequeno adultério ao nível presidencial parecia perfeitamente admissível. Liberdade, igualdade, fraternidade? Ou há algo de errado nisso?
Acontece que a “liberdade, igualdade, fraternidade” na interpretação moderna é a permissão aos gays e lésbicas de não somente viver em conjunto, – na realidade, ninguém impede isso em lugar algum, – mas também de educar filhos, claro que filhos dos outros, adotivos. Mas existe uma certa diferença entre a restrição dos direitos das pessoas adultas e autônomas, o que aliás, já não é atual, e dos direitos das crianças. É sabido que elas não escolhem, – são escolhidas e são educadas. Mas como? É isso que a maioria dos franceses teme. E esta questão veio textualmente dividir, – nem mais, nem menos, – o país.
“François Hollande não recorrerá à adoção forçada da lei”, opina o aposentado francês Jaen-Luc Cordon, o nosso interlocutor. Ele próprio votou no líder dos socialistas. Afirma, todavia, que fez isso somente para não votar no seu antecessor, Nicolas Sarkozy. Há um ano, muitas pessoas procederam precisamente desta maneira. Mas agora discordam totalmente da política do atual chefe de Estado.
“A maioria apoia a lei mas, no plano de adoção de crianças, nem tudo está bem claro. Além disso, os franceses esperavam que o presidente tomasse medidas a fim de combater o crescente desemprego, que é o maior problema da França hoje em dia, a fim de diminuir a demanda de consumo e o crescimento inexorável do número de pessoas que vivem abaixo do nível de pobreza”.
Tudo isso começou há um ano quando Barack Obama anunciou publicamente que apoiava os casamentos homossexuais. Nos EUA espezinharam imediatamente a Lei do Casamento, assinada em 1996 por Bill Clinton, começaram processos judiciais, continua o litígio na Califórnia pela revogação neste Estado da interdição de casamentos homossexuais. É isso mesmo – oficialmente, mesmo na Califórnia, os homossexuais estão impedidos de ouvir a marcha nupcial de Mendelson. Falando a propósito, Clinton apressou-se a publicar um artigo em que lamentava a sua decisão anti-gay alegando que a época era diferente.
Na Europa, que toma o exemplo da América, o movimento pela igualdade de direitos dos gays e lésbicas no código de família sempre foi bastante ativo. Os primeiros desfiles carnavalescos dos gays transformaram-se pouco tempo depois em exigências de contrair matrimônio e, depois, de educar os filhos. Aliás, na maioria dos países da União Europeia os casamentos homossexuais estão proibidos. As exceções neste plano são a Holanda, Bélgica, Portugal, Noruega, Espanha e Suécia. Falando a propósito, na França e na Alemanha, os casais não tradicionais podem há muito formalizar as suas relações em conformidade com um esquema simplificado, sem os privilégios tributários e sem o direito de educar filhos. Na Itália e na Polôni,a esta questão simplesmente não existe, pois nestes países o caso iria degenerar em violência por parte dos católicos. Quanto mais se avança para leste, tanto pior é a situação.
Em suma, a tentativa de legalizar os casamentos homossexuais na França tornou evidente mais um erro da União Europeia, ou seja, a equiparação da sua população é impossível, mesmo no tocante ao princípio de direitos civis, pois lá onde começam os direitos de uns, acabam as liberdades dos outros. Em resultado disso,a questãodos casamentos homossexuais representa para a União Europeia um problema jurídico. As famílias homossexuais, destituídas de possibilidades iguais em todo o território da zona do euro nas questões de herança, tributação e educação de filhos, aumentam ainda mais as fileiras de protestantes. Por outro lado, a legalização hipotética dos casamentos homossexuais em todo o território da União Europeia acarretaria uma cisão ainda maior, pois a maioria absoluta dos cidadãos da Europa Unida iria manifestar-se contra esta decisão.
Fonte: http://portuguese.ruvr.ru
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