Dez anos atrás, durante uma viagem ao Vaticano, o padre carmelita Reginaldo Manzotti descobriu que em muitas igrejas ali era proibido acender velas de cera. Elas haviam sido substituídas por velas artificiais, que são como lâmpadas acionadas por moedas.
“Se em Roma é válido eu acender uma vela que não queima ou faz fumaça, por que não criar uma vela pela internet?”, pensou. Hoje em dia, ele é responsável pelo santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba. Também usa incessantemente a internet para evangelização.
O padre de 42 anos, usa seu blog, o Facebook, o Twitter, além de rádio e tevê para transmitir suas mensagens. Em média, seu site recebe mais de 1 milhão de visitas por mês, onde os fieis podem usar os rituais online disponíveis. Os serviços religiosos digitais estão em ascensão.
Em novembro, No mês passado, mais de 148 mil pessoas acenderam uma vela digital. “É um novo modo de ser religioso”, explica o padre Evaldo César de Souza, 35 anos. Ele é o responsável por outro site católico que oferece novenas, vias-sacras e pedidos de orações virtuais: o portal A12, do Santuário de Nossa Senhora Aparecida.
Segundo Moisés Sbardelotto, autor do livro “E o Verbo Se Fez Bit”– a Comunicação e a Experiência Religiosas na Internet”, o fiel se transformou em coprodutor da própria fé, enquanto a Igreja, em vez de exigir obediência estrita, passou a conceder uma autonomia regulada e permitir, de certa forma, que um membro construa sua própria religiosidade.
A liberdade encontrada na internet tem mudado o comportamento de muitos religiosos. Fieis se aproveitam da possibilidade de se expressar de forma anônima e confrontam as posições de um líder. “No geral, uma denominação não fideliza o devoto por meio de rituais religiosos virtuais”, acredita José Rogério Lopes, da pós-graduação em ciências sociais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, RS. “Mas essas ferramentas são essenciais para a manutenção diária dos rebanhos.”
Segundo uma pesquisa recente encomendada pela empresa de tecnologia Intel, o Brasil é o país onde mais se discute religião por celular e tablet. Trinta e nove por cento dos brasileiros entrevistados fazem isso. Em seguida vem os australianos, com 8%, os franceses, com 3% e os japoneses com 1%.
No momento em que o papa Bento XVI se rendeu e começou a usar o Twitter, obteve na primeira semana a marca de mais de 1,2 milhão de pessoas. Mas qual o objetivo desse uso da tecnologia? Segundo o padre Souza, do portal A12, “Não temos a intenção de conquistar fiéis pela internet, mas prolongar a experiência de fé das pessoas. Mas, nesse ambiente de secularismo, se o catolicismo quiser que a religião continue viva em alguém, tem de se fazer presente também no mundo virtual.”
O padre Manzotti revela que constantemente seus seguidores pedem que ele inaugure um canal de confissão online pela webcam. Mas os católicos já foram instruídos pelo documento “A Igreja e a internet”, emitido pelo Pontifício Conselho das Comunicações Sociais. Para o Vaticano, “a realidade virtual não pode substituir a real presença de Cristo na Eucaristia. Na internet não existem sacramentos.”
Mesmo assim, Manzotti acredita que seria viável fazer um casamento pela internet. “A matéria do matrimônio está nos noivos e não no líder religioso. É possível que se dê a bênção a distância”, explica.
Os estudiosos de religião acreditam que a internet não irá substituir a igreja concreta, mas é inegável que hoje se tornou uma ferramenta indispensável para o rebanho.
As informações são da revista Isto É.
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