Sandro Magister, Chiesa.
Quando na vigília de Natal, em 2009, Bento XVI lançou a ideia do Átrio dos Gentios, disse imediatamente qual era a sua finalidade: manter desperta a busca de Deus entre agnósticos e ateus, como o “primeiro passo” para a sua evangelização.
Porém, o Papa não estabeleceu as formas de realizar isto. Confiou o andamento nesta direção ao presidente doPontifício Conselho da Cultura, o arcebispo e depois cardeal Gianfranco Ravasi, valioso e experimentado criador de acontecimentos culturais.
Ravasi iniciou com a organização de um encontro em Paris, nos dias 24 e 25 de março de 2010, que teve um notável impacto. O próprio Bento XVI participou dele por meio de uma mensagem de vídeo dirigida aos jovens reunidos na explanada de Notre Dame.
Contudo, nas reuniões seguintes o Papa permaneceu em silêncio. O Átrio dos Gentios seguiu , em diferentes países, numa crescente que culminou, nos dias 5 e 6 de outubro deste ano, em Assis, com um elenco de participantes recorde, começando pelo presidente da República Italiana, Giorgio Napolitano, agnóstico de formação marxista.
Entretanto, em paralelo a esse crescimento, houve uma diminuição de interesse geral e nos meios de comunicação. Uma diminuição compreensível. O fato de que alguns não crentes tenham tomado a palavra, num ato promovido pela Santa Sé, já não era notícia. E não era notícia nem sequer o fato de que cada um expôs sua visão de mundo, por outra parte já conhecida, como em outros, como uma espécie de “quadros de uma exposição”.
Apesar da parte sugestiva em cada um dos acontecimentos e da admiração que suscitavam entre os participantes, oÁtrio dos Gentios corria o risco de não produzir nada de novo e significativo no campo da evangelização.
De fato, se houve alguma novidade em seu último encontro, que aconteceu nos dias 16 e 17 de novembro, em Portugal, esta veio de fora e do alto. Pela primeira vez na história do Átrio dos Gentios– além do caso especial de Paris -,Bento XVI enviou uma mensagem pessoal aos participantes. Uma mensagem em que quis reconduzir a iniciativa para a sua finalidade original: a de falar de Deus a quem está distante, despertando as perguntas que aproximam Dele, “ao menos como Desconhecido”.
Na mensagem, claramente escrita de seu punho e letra, Bento XVI se inspirou no tema principal doÁtrio dos Gentiosportuguês: “a aspiração comum de afirmar o valor da vida humana”. Em seguida, argumentou que a vida de toda pessoa, ainda mais se é amada, não pode deixar de “colocar Deus em questão”.
Prosseguindo, diz: “O valor da vida apenas se torna evidente se Deus existe. Por isso, seria bonito se os nãos crentes quisessem viver ‘como se Deus existisse’. Embora não tenham a força para crer, deveriam viver baseados nesta hipótese; caso contrário, o mundo não funciona. Há tantos problemas que precisam ser resolvidos, mas que nunca serão resolvidos totalmente, se Deus não for colocado no centro, caso Deus não se torne, novamente, visível no mundo e determinante em nossa vida”.
Na conclusão, Bento XVI citou uma linha da mensagem dirigida pelo Concílio Vaticano II aos pensadores e cientistas: “Felizes os que, possuindo a verdade, procuram-na ainda mais, a fim de renová-la, aprofundar-se nela e oferecê-la aos demais”. E acrescentou lapidamente: “São estes o espírito e a razão de ser do Átrio dos Gentios”.
O indubitável alinhamento cunhado ao Átrio dos Gentios, por Bento XVI, com esta mensagem, não foi ressaltado pelos meios de comunicação, nem sequer pelos católicos e mais atentos.
Contudo, o cardeal Ravasi, sem dúvida alguma, registrou e subscreveu. Nota-se isto pelo balanço doÁtrio português, publicado no “L’Osservatore Romano”, no dia 23 de novembro.
“Em Guimarães, o público expôs uma questão: a sacralidade da vida pressupõe algo que não transcende. Como podemos conhecer Deus? Ou seja, tocou-se no objetivo pelo qual o Átrio dos Gentios foi pensado: o de expressar a inquietude em relação a Deus. Tema amplo e complexo sobre o qual, disse o cardeal Ravasi, o Átrio dos Gentios retomará de maneira mais profunda nos próximos encontros”. Esta volta poderá ser verificada nos próximos encontros.
Por sua vez, no “L’Osservatore Romano”, Ravasi deu início a uma série de artigos sobre o encontro/desencontro entre a fé e a incredulidade na cultura contemporânea, como uma contribuição ao Ano da Fé, convocado pelo Papa.
No primeiro destes artigos, no dia 28 de novembro, o cardeal tornou manifesto seu excepcional domínio da literatura, das artes e das ciências, com um exuberante floreio de autores citados. Em ordem: Aleksandr Blok, Franz Kafka, Emil Cioran, Jean Cocteau, Rudolf Bultmann, Blaise Pascal, Jan Dobraczynski, Robert Musil, Ludwig Wittgenstein, Luis de León, David Hume, Anatole France, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Alberto Moravia, Augusto Del Noce, Jacques Prévert, Eugenio Montale, Johann Wolfgang Von Goethe.
Uma vintena de autores, em média, por página de jornal, quase todos eles não crentes, embora todos tenham se revelado “vulneráveis” às perguntas sobre Deus.
Fonte: http://www.comshalom.org/blog/carmadelioQuando na vigília de Natal, em 2009, Bento XVI lançou a ideia do Átrio dos Gentios, disse imediatamente qual era a sua finalidade: manter desperta a busca de Deus entre agnósticos e ateus, como o “primeiro passo” para a sua evangelização.
Porém, o Papa não estabeleceu as formas de realizar isto. Confiou o andamento nesta direção ao presidente doPontifício Conselho da Cultura, o arcebispo e depois cardeal Gianfranco Ravasi, valioso e experimentado criador de acontecimentos culturais.
Ravasi iniciou com a organização de um encontro em Paris, nos dias 24 e 25 de março de 2010, que teve um notável impacto. O próprio Bento XVI participou dele por meio de uma mensagem de vídeo dirigida aos jovens reunidos na explanada de Notre Dame.
Contudo, nas reuniões seguintes o Papa permaneceu em silêncio. O Átrio dos Gentios seguiu , em diferentes países, numa crescente que culminou, nos dias 5 e 6 de outubro deste ano, em Assis, com um elenco de participantes recorde, começando pelo presidente da República Italiana, Giorgio Napolitano, agnóstico de formação marxista.
Entretanto, em paralelo a esse crescimento, houve uma diminuição de interesse geral e nos meios de comunicação. Uma diminuição compreensível. O fato de que alguns não crentes tenham tomado a palavra, num ato promovido pela Santa Sé, já não era notícia. E não era notícia nem sequer o fato de que cada um expôs sua visão de mundo, por outra parte já conhecida, como em outros, como uma espécie de “quadros de uma exposição”.
Apesar da parte sugestiva em cada um dos acontecimentos e da admiração que suscitavam entre os participantes, oÁtrio dos Gentios corria o risco de não produzir nada de novo e significativo no campo da evangelização.
De fato, se houve alguma novidade em seu último encontro, que aconteceu nos dias 16 e 17 de novembro, em Portugal, esta veio de fora e do alto. Pela primeira vez na história do Átrio dos Gentios– além do caso especial de Paris -,Bento XVI enviou uma mensagem pessoal aos participantes. Uma mensagem em que quis reconduzir a iniciativa para a sua finalidade original: a de falar de Deus a quem está distante, despertando as perguntas que aproximam Dele, “ao menos como Desconhecido”.
Na mensagem, claramente escrita de seu punho e letra, Bento XVI se inspirou no tema principal doÁtrio dos Gentiosportuguês: “a aspiração comum de afirmar o valor da vida humana”. Em seguida, argumentou que a vida de toda pessoa, ainda mais se é amada, não pode deixar de “colocar Deus em questão”.
Prosseguindo, diz: “O valor da vida apenas se torna evidente se Deus existe. Por isso, seria bonito se os nãos crentes quisessem viver ‘como se Deus existisse’. Embora não tenham a força para crer, deveriam viver baseados nesta hipótese; caso contrário, o mundo não funciona. Há tantos problemas que precisam ser resolvidos, mas que nunca serão resolvidos totalmente, se Deus não for colocado no centro, caso Deus não se torne, novamente, visível no mundo e determinante em nossa vida”.
Na conclusão, Bento XVI citou uma linha da mensagem dirigida pelo Concílio Vaticano II aos pensadores e cientistas: “Felizes os que, possuindo a verdade, procuram-na ainda mais, a fim de renová-la, aprofundar-se nela e oferecê-la aos demais”. E acrescentou lapidamente: “São estes o espírito e a razão de ser do Átrio dos Gentios”.
O indubitável alinhamento cunhado ao Átrio dos Gentios, por Bento XVI, com esta mensagem, não foi ressaltado pelos meios de comunicação, nem sequer pelos católicos e mais atentos.
Contudo, o cardeal Ravasi, sem dúvida alguma, registrou e subscreveu. Nota-se isto pelo balanço doÁtrio português, publicado no “L’Osservatore Romano”, no dia 23 de novembro.
“Em Guimarães, o público expôs uma questão: a sacralidade da vida pressupõe algo que não transcende. Como podemos conhecer Deus? Ou seja, tocou-se no objetivo pelo qual o Átrio dos Gentios foi pensado: o de expressar a inquietude em relação a Deus. Tema amplo e complexo sobre o qual, disse o cardeal Ravasi, o Átrio dos Gentios retomará de maneira mais profunda nos próximos encontros”. Esta volta poderá ser verificada nos próximos encontros.
Por sua vez, no “L’Osservatore Romano”, Ravasi deu início a uma série de artigos sobre o encontro/desencontro entre a fé e a incredulidade na cultura contemporânea, como uma contribuição ao Ano da Fé, convocado pelo Papa.
No primeiro destes artigos, no dia 28 de novembro, o cardeal tornou manifesto seu excepcional domínio da literatura, das artes e das ciências, com um exuberante floreio de autores citados. Em ordem: Aleksandr Blok, Franz Kafka, Emil Cioran, Jean Cocteau, Rudolf Bultmann, Blaise Pascal, Jan Dobraczynski, Robert Musil, Ludwig Wittgenstein, Luis de León, David Hume, Anatole France, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Alberto Moravia, Augusto Del Noce, Jacques Prévert, Eugenio Montale, Johann Wolfgang Von Goethe.
Uma vintena de autores, em média, por página de jornal, quase todos eles não crentes, embora todos tenham se revelado “vulneráveis” às perguntas sobre Deus.
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