O biólogo evolucionista Richard Dawkins é um ateu militante. Autor de vários livros de sucesso, incluindo o best-seller Deus: um Delírio, agora se aventura na literatura infantil.
No início deste mês ele lançou The Magic of Reality: How We Know What is true [A mágica da realidade: Como sabemos o que é verdade]. A editora diz que se trará de “uma cartilha científica para o mundo, mostrando sua magia e sua origem, um antídoto para a mitologia de querer ensinar o criacionismo para jovens leitores e substituir a ciência pelo mito”.
O livro conta com belas ilustrações, feitas pelo artista gráfico Dave McKean. Escrito em uma linguagem acessível, procura esclarecer temas e fenômenos naturais baseados apenas na ciência. Seria quase como dizer “o que não pode ser provado cientificamente não existe”. Isso, claro, resulta em dizer que todas as religiões são falsas, pois Deus não pode ser provado cientificamente.
O autor tenta abordar cientificamente coisas que atraem a curiosidade das crianças em idade escolar, como “o que são os terremotos?” Mas ao longo de todas as páginas aborda que a realidade não nos dá espaço para “o mito e o folclore”. Cada capítulo começa falando de uma história conhecida de alguma das religiões do mundo.
A partir disso, Dawkins procura analisar os processos e os fenômenos científicos que estas histórias tentam explicar. O livro vem acompanhado de um aplicativo para iPad, tornando a experiência de lê-lo mais atrativa para essa geração.
O ateu Dawkins explora o conflito entre o conforto e a verdade. Por exemplo, ele explica por que a teoria da evolução é mais fascinante e mais poética que qualquer conto de fadas ou teoria religiosa. Em um determinado trecho, escreve:
“Quando você pensa que aqui estamos nós, neste planeta, um fragmento de poeira girando em torno do sol. Ao longo de quatro bilhões de anos, foi mudando gradualmente, e as bactérias tornaram-se seres que somos hoje. Essa é uma história fascinante”.
Ele lembra a citação famosa de Picasso: “Toda criança é um cientista natural. O problema é como permanecer sendo um cientista depois que ela cresce”.
Todos os pais irão concordar que as crianças precisam da imaginação e do faz de conta que há séculos estão presentes nos livros infantis, nas fábulas e nos contos de fada. Parece um tanto cruel pensar que desde a tenra idade esse “cientista” mirim aprenderá a ver o mundo apenas pelas lentes da ciência.
Por enquanto não há previsão de lançamento desse material no Brasil, mas chama atenção o ineditismo e a ousadia da proposta. Tentar incutir nas crianças que tudo é explicado pela ciência e não deixar espaço para os mistérios da vida e a busca pelo sentido é uma forma sutil, mas terrivelmente eficaz de minar a ideia de um Deus Todo-Poderoso.
Traduzido e adaptado de Brain Pickings
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